
Um novo e abrangente estudo publicado pela Fundação Vodafone em parceria com a organização não governamental (ONG) Save the Children lança um sério aviso sobre o estado do bem-estar digital das crianças no continente europeu. A investigação, intitulada “Clicar, fazer Scroll, Conectar - e Equilibrar”, revela um cenário preocupante, onde o stress digital, lacunas na educação e novas ameaças como a Inteligência Artificial (IA) colocam em risco a saúde mental e a segurança dos mais novos.
O retrato de uma geração em stress digital
O estudo aponta para um conjunto de fatores que, interligados, estão a comprometer o desenvolvimento saudável das crianças no mundo online. O impacto do stress digital é uma das principais preocupações: em países da OCDE, 17% dos jovens com 15 anos admitem sentir-se ansiosos quando estão longe dos seus dispositivos. Além disso, 10% demonstram um uso problemático das redes sociais, um número que sobe para 14% entre crianças de famílias migrantes.
Os sistemas educativos parecem não estar a conseguir acompanhar o ritmo da digitalização. Muitas crianças não entendem como os seus dados são utilizados e apenas 51% dos jovens de 15 anos sabem alterar facilmente as suas definições de privacidade. A literacia digital também fica aquém, com apenas 28% a comparar diferentes fontes quando fazem pesquisas online.
A análise sublinha ainda que os grupos mais marginalizados, como jovens LGBTQIA+, crianças com deficiência ou de meios socioeconómicos desfavorecidos, enfrentam riscos acrescidos, incluindo assédio e desinformação, sendo frequentemente esquecidos nas estratégias de proteção nacionais.
A Inteligência Artificial como nova ameaça
Como se não bastasse, a ascensão da Inteligência Artificial (IA) veio adicionar uma nova e preocupante camada de risco. O estudo revela um crescimento alarmante de material de abuso sexual infantil gerado por IA, com mais de 20.000 imagens detetadas num único fórum da dark web em apenas um mês. Os incidentes de deepfake que visam crianças aumentaram uns impressionantes 550% desde 2019.
Apesar da existência de regulamentação europeia robusta, como o RGPD e o Regulamento dos Serviços Digitais (DSA), a sua aplicação varia drasticamente entre países, resultando em níveis de proteção muito díspares.
A resposta: uma parceria para um futuro digital mais seguro
Para enfrentar estes desafios, a Fundação Vodafone e a Save the Children uniram forças num novo programa europeu destinado a crianças dos 9 aos 16 anos. A iniciativa foca-se no desenvolvimento de competências digitais e resiliência, com o objetivo de promover o bem-estar das gerações mais novas.
As conclusões do estudo já estão a moldar a evolução do programa Skills Upload Junior da Fundação Vodafone. Este programa, que em Portugal assume o nome DigitAll e já alcançou mais de 20 mil estudantes, será reforçado com novos módulos focados no bem-estar digital, resiliência e empatia.
A base para estes novos conteúdos é a estrutura SMILE (Segurança, Gestão, Identidade, Literacia, Empatia), desenvolvida pela Save the Children, que oferece uma abordagem prática para guiar os jovens na construção de uma relação saudável com o mundo digital.
Como proteger os mais novos?
A investigação aponta cinco caminhos essenciais que devem ser seguidos por governos, empresas e educadores para garantir um ambiente digital mais seguro:
Educação: Integrar o bem-estar digital nos currículos escolares, capacitando os professores para ensinar segurança, resiliência e empatia.
Participação: Envolver ativamente as crianças na criação de políticas e ferramentas digitais que lhes dizem respeito.
Inclusão: Criar estratégias que respondam às necessidades específicas de todos os jovens, especialmente os mais vulneráveis.
Avaliação: Investir em investigação para monitorizar e avaliar o real impacto das iniciativas de bem-estar digital.
Responsabilização: Alinhar as políticas nacionais com as normas internacionais e garantir que as plataformas digitais são responsabilizadas pela proteção das crianças.
Para os interessados em aprofundar o tema, o estudo completo e o sumário executivo em português estão disponíveis para consulta online.