
Numa jogada estratégica pouco habitual, a Tesla decidiu quebrar o protocolo e publicar publicamente as estimativas de consenso para as entregas do quarto trimestre de 2025. Esta informação, que normalmente circula apenas de forma privada por e-mail entre analistas e grandes investidores, foi agora colocada à vista de todos no site de relações com investidores da marca, sugerindo uma tentativa de controlar a narrativa antes de um final de ano potencialmente desapontante.
A empresa liderada por Elon Musk prepara-se para divulgar os resultados oficiais de produção e entrega nos primeiros dias de janeiro, e tudo indica que estes números irão confirmar o segundo ano consecutivo de queda nas entregas dos seus veículos elétricos.
A estratégia dos números: baixar a fasquia
O consenso divulgado, que a empresa descreve como sendo "compilado pela empresa", aponta para uma expectativa mediana de 420.399 veículos entregues no quarto trimestre de 2025 (com uma média de 422.850). Este valor é notavelmente inferior às estimativas públicas que circulavam em Wall Street, onde, por exemplo, o consenso da Bloomberg rondava as 440.000 unidades.
Ao tornar público este consenso interno mais baixo, a fabricante parece estar a tentar gerir as expectativas do mercado e dos investidores. Se os "números de corredor" se mantivessem nos 440 mil e a empresa entregasse 425 mil, as ações sofreriam provavelmente um impacto negativo. Ao ancorar agora as expectativas nos 420 mil, um resultado de 425 mil poderá ser apresentado como uma superação das estimativas, conforme analisa o Electrek.
2025 confirma tendência de declínio
As implicações destes números são claras e desenham um cenário de contração para a gigante dos elétricos. Se a marca atingir a meta mediana de cerca de 420.000 entregas neste trimestre, o total acumulado para o ano de 2025 ficará em aproximadamente 1,64 milhões de veículos.
Isto confirmaria que 2025 é o segundo ano consecutivo de quebra nas entregas:
2023: 1,81 milhões (o pico até ao momento);
2024: 1,79 milhões;
2025 (Estimado): 1,64 milhões.
Uma queda para 1,64 milhões representaria um declínio anual de cerca de 8%, uma aceleração preocupante na direção errada quando comparada com a ligeira descida de 1% registada em 2024. Já se esperava que o quarto trimestre fosse difícil, especialmente após o fim do crédito fiscal federal nos EUA no final do terceiro trimestre, o que antecipou muita da procura (levando a um recorde de quase 497 mil entregas no Q3). Ainda assim, uma queda sequencial de mais de 75.000 unidades entre trimestres é mais acentuada do que muitos analistas previam, colocando pressão sobre as futuras vendas da empresa.