
A era da liberdade total para modificar o software dos smartphones da Xiaomi parece estar a chegar ao fim, pelo menos no seu mercado doméstico. A gigante tecnológica chinesa removeu o portal de candidatura para o desbloqueio do bootloader da sua aplicação Mi Community na China, fechando aquela que era a porta oficial para os entusiastas que pretendiam personalizar os seus dispositivos.
Segundo avança o portal XiaomiTime, esta funcionalidade, que permitia aos utilizadores avançados solicitar alterações profundas no sistema dos seus equipamentos, deixou de estar visível na secção onde habitualmente se encontrava. Embora o processo já fosse notoriamente difícil, com uma taxa de sucesso estimada em apenas 0,00001%, a remoção completa da opção sinaliza um encerramento definitivo deste procedimento online na China.
Controlo total sobre o software
Esta medida representa uma mudança dramática na postura da marca em relação à segurança dos dispositivos no seu país de origem. Anteriormente, um utilizador na China era obrigado a submeter um pedido para desbloquear o bootloader. Não era um processo fácil nem garantido, mas a possibilidade existia.
Com a eliminação deste ponto de entrada através da aplicação da comunidade, a marca fecha a porta a modificações não autorizadas de software nas versões chinesas dos seus dispositivos, consolidando o controlo sobre o ecossistema, que agora gira em torno do HyperOS.
Engenharia social e incidentes nos centros de assistência
Antes desta remoção total, a comunidade de entusiastas procurava formas criativas de contornar as restrições cada vez mais apertadas. Um caso significativo, relatado há alguns meses, envolveu um centro de assistência autorizado na China.
O método, descrito como uma forma de "engenharia social", consistia em levar o dispositivo ao centro técnico alegando falhas de software. Como os técnicos autorizados possuem o equipamento necessário para desbloquear o bootloader para fins de restauro de firmware, o utilizador conseguia que o staff desbloqueasse o equipamento. Relatos indicam que, em certos casos, o utilizador conseguia adquirir o dispositivo imediatamente após este processo, contornando assim os tempos de espera e as restrições das candidaturas.
Com a via oficial encerrada, a interferência física por parte de equipas de assistência autorizada — seja acidental ou intencional — parece ser, em teoria, uma das últimas avenidas possíveis para quem procura modificar o seu equipamento.
O que muda para os utilizadores globais?
Estas alterações drásticas na China levantaram imediatamente preocupações sobre o futuro do desbloqueio de bootloader no mercado internacional. Atualmente, a política para os utilizadores globais é distinta: é possível desbloquear o bootloader solicitando permissão e aguardando um período de aproximadamente 30 dias.
No entanto, o histórico da empresa sugere que as políticas implementadas no mercado doméstico acabam, frequentemente, por influenciar as diretrizes globais. Resta saber se esta abordagem de "trancar portas" será estendida ao resto do mundo num futuro próximo.