
Um novo estudo académico, realizado em parceria com a agência France-Presse (AFP), veio demonstrar que o combate à desinformação nas redes sociais produz efeitos práticos e mensuráveis. A investigação concluiu que a viralidade de conteúdos sinalizados como falsos diminui, em média, 8% no Facebook, confirmando que os mecanismos de verificação de factos (fact-checking) têm um impacto real na forma como a informação circula online.
A análise, conduzida ao longo de um ano e meio pela equipa de investigação da Sciences Po, comparou a trajetória de publicações verificadas com a de conteúdos semelhantes que não foram alvo de escrutínio. Este trabalho surge num contexto em que plataformas como a Meta mantêm acordos com órgãos de comunicação social para avaliar a veracidade de publicações virais, rotulando-as como falsas ou parcialmente falsas quando necessário.
Impacto no comportamento dos utilizadores
Os resultados, detalhados no estudo publicado na SSRN, sugerem que a quebra na viralidade não se deve apenas aos algoritmos das plataformas, que reduzem a visibilidade destes conteúdos, mas também a uma mudança na atitude de quem navega. Segundo Julia Cagé, economista e investigadora participante no projeto, existe um "efeito positivo, estatisticamente significativo" decorrente desta sinalização.
O estudo observou que os utilizadores que interagem com conteúdos marcados como falsos tendem a alterar o seu comportamento a curto prazo. Estes internautas não só reduzem a sua utilização global das redes sociais após o contacto com o aviso, como também passam a partilhar menos informações na plataforma e, crucialmente, partilham menos desinformação no futuro imediato.
A importância da rapidez e do tema
Apesar da média de redução de 8%, a eficácia da verificação de factos não é uniforme. A investigação destaca que a rapidez com que a análise é feita é determinante: quanto mais cedo um conteúdo for verificado, mais acentuada é a quebra na sua propagação. Além disso, o tema abordado desempenha um papel fundamental nos resultados.

Enquanto a desinformação relacionada com a guerra na Ucrânia sofreu um impacto forte após a verificação, temas ligados à saúde ou ao ambiente mostraram-se mais resistentes, com um efeito de contenção mais limitado. Para Nina Lamparski, editora-chefe adjunta de investigações digitais da AFP, estes dados são encorajadores, provando que o trabalho de verificação faz uma "diferença real", especialmente quando executado de forma célere e claramente identificado.