A Apple, conhecida pelo seu ecossistema rigorosamente controlado, poderá estar prestes a tomar uma decisão histórica para o futuro da sua assistente de voz. Depois das dificuldades sentidas no desenvolvimento da sua própria inteligência artificial, um novo relatório da Bloomberg avança que a gigante de Cupertino está a considerar utilizar tecnologia externa da OpenAI ou da Anthropic para potenciar uma futura versão da Siri.
A notícia surge depois da revelação da "Apple Intelligence" na WWDC do ano passado, um projeto que pretendia renovar a Siri mas que, ao que tudo indica, não está a correr como planeado. O receio de desiludir os utilizadores no campo da IA parece ser justificado, dado que os modelos internos da empresa continuam atrás da concorrência.
Uma guerra interna de visões sobre o futuro da IA
Esta potencial mudança de estratégia está a gerar um debate intenso dentro da própria Apple. De um lado, encontram-se executivos como Craig Federighi, o chefe de software, e Mike Rockwell, o novo líder da equipa Siri. Rockwell, que anteriormente liderou o projeto Vision Pro, parece apostado em explorar tecnologia de terceiros para resolver os problemas crónicos da assistente. Assim que assumiu o cargo, terá começado a avaliar modelos de outras empresas.
Do outro lado da barricada está John Giannandrea, o principal executivo de IA da Apple e um forte defensor do desenvolvimento de toda a tecnologia "em casa". No entanto, a sua influência parece estar a diminuir, com várias das suas responsabilidades, incluindo a Siri e projetos de robótica, a serem transferidas para a alçada de Federighi.
Anthropic na frente, mas o dinheiro é um problema
Após uma série de testes internos, a equipa liderada por Rockwell concluiu que o modelo Claude, da Anthropic, era o mais promissor e adequado para as necessidades específicas da Siri. Esta conclusão levou Adrian Perica, responsável pelo desenvolvimento corporativo da Apple, a iniciar conversações oficiais com a Anthropic. O objetivo é claro: tornar a Siri novamente competitiva face às assistentes em telemóveis Android, muitas das quais já utilizam a IA Gemini da Google, sem abdicar completamente dos seus princípios de privacidade.
Contudo, as negociações encontraram um obstáculo significativo: o preço. A Anthropic terá pedido uma verba anual de vários milhares de milhões de dólares, com aumentos previstos todos os anos. Segundo a Bloomberg, é um valor que a Apple está relutante em pagar. Este impasse financeiro deixa a porta aberta para que a Apple possa recuar e voltar a negociar com a OpenAI ou procurar outro parceiro.
Moral em baixo e o risco de uma fuga de talentos
Como seria de esperar, esta mudança de rumo teve um impacto negativo no moral da equipa interna de IA da Apple. Os engenheiros responsáveis pelos modelos de base da empresa, alguns dos profissionais mais cobiçados da indústria, sentem que estão a ser culpabilizados pelas dificuldades da empresa neste setor.
O descontentamento é tal que alguns já sinalizaram a possibilidade de abandonar a empresa. Com gigantes como a Meta prontas para contratar os melhores talentos, oferecendo pacotes salariais de milhões, a Apple arrisca-se a uma perigosa fuga de cérebros precisamente na área onde mais precisa de inovar.
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