Já imaginou o que aconteceria se uma Inteligência Artificial tentasse sabotar a sua vida amorosa? Esta é uma realidade cada vez mais comum para muitos utilizadores de aplicações de encontros, graças à ascensão preocupante de "wingmen" digitais alimentados por IA.
Este fenómeno está intimamente ligado à popularidade das apps de texto no mundo dos encontros online. Inquéritos recentes mostram que um em cada cinco adultos com menos de 30 anos conheceu o seu parceiro em aplicações como o Tinder ou o Hinge. Durante anos, a experiência nestas plataformas tem sido vista como algo alienante, coincidindo com um aumento do isolamento social e da solidão. A chegada dos modelos de linguagem (LLMs) — chatbots de IA criados para manter os utilizadores envolvidos — apenas agravou a situação, permitindo que as pessoas deleguem a arte da sedução a um algoritmo.
Uma nova reportagem do The Guardian detalhou alguns casos em que estes "wingmen" de IA falharam redondamente.
O conselho desastroso do ChatGPT
Um desses casos envolveu Rich, um homem de 32 anos que recorreu ao ChatGPT depois de trocar contactos com alguém que conheceu num bar. Seguindo o conselho do chatbot, Rich ignorou a pessoa durante dois dias, esperando até segunda-feira de manhã para enviar mensagem e, supostamente, "definir o ritmo certo".
O que parecia ser desinteresse era, na verdade, um fim de semana inteiro a criar a mensagem de abertura perfeita com a ajuda da IA. "Mantém um tom leve, caloroso e de baixo risco para que pareça interesse genuíno sem urgência", aconselhou o bot. No final, a mensagem escolhida foi um banal "Olá Sarah, foi um prazer conhecer-te". A resposta dela foi o silêncio. "Já passaram duas semanas", lamentou Rich.
Quando o engate soa a robô
Noutros casos, os conselhos do ChatGPT são tão artificiais que se tornam um sinal de alerta óbvio. Nina, uma mulher de 35 anos, contou que recebeu uma mensagem de abertura numa app de encontros que dizia: "o teu sorriso é cativante sem esforço". "Ninguém fala assim", afirmou, acrescentando que não respondeu.
Para quem está do outro lado, este fenómeno — comummente chamado de "chatfishing" — pode resultar em encontros bastante dececionantes.
Rachel, de 36 anos, apercebeu-se disso depois de passar três semanas a conversar com um potencial parceiro no Hinge. O homem parecia atencioso e profundo. "Era como se ele estivesse genuinamente a tentar conhecer-me a um nível mais profundo", disse ela.
No entanto, quando se encontraram pessoalmente, tornou-se evidente que ele não era o homem sensível e confiante que aparentava online. O ChatGPT tinha-lhe garantido o encontro, mas, cara a cara, ele não conseguiu demonstrar qualquer um dos atributos que a cativaram.
"Senti que estava sentada em frente a alguém com quem nunca tinha falado", recordou. "Tentei ter o mesmo tipo de conversa que tínhamos online, mas era como se ele não soubesse basicamente nada sobre mim."
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