A memória RAM é talvez o componente menos "sexy" de um computador, mas sem ela, nada funciona. Se for pouca ou lenta, todo o sistema sofre e limita o desempenho dos outros componentes. E, neste momento, os preços da RAM estão literalmente a disparar.
Podemos chamar-lhe o "RAM-pocalipse". Mas, ironicamente, a verdade é que (ainda) não é o fim do mundo. Para perceber o que se passa, temos de analisar por que é que isto está a acontecer e o que significa para a tecnologia que usamos todos os dias.
Os preços duplicaram (outra vez)
Parte do contexto que talvez nos falhe é que a memória esteve bastante barata durante os últimos anos. Isto faz com que os aumentos atuais pareçam particularmente brutais, já que estávamos habituados a colocar carradas de RAM nas nossas máquinas por pouco dinheiro.
Agora, a situação mudou drasticamente. Os kits de memória DDR5 duplicaram de preço desde meados de 2024, subindo mais depressa que o valor do ouro, segundo o Tom's Hardware. E não é só a RAM. A memória flash usada nos SSDs — essenciais em qualquer dispositivo hoje em dia — também está a sofrer uma enorme pressão nos preços.
À medida que os OEMs (Fabricantes de Equipamento Original) lutam para garantir a sua fatia do fornecimento, inicia-se uma autêntica guerra de licitação que atira os preços para as nuvens, como avança o TrendForce News.
Do excesso de oferta à escassez
Uma das principais razões para a RAM ter estado tão barata é que havia mais oferta do que procura. Em 2023, por exemplo, havia memória mais do que suficiente para todos, e os fabricantes de DRAM (memória dinâmica) tinham de ajustar os preços para manter as luzes acesas.
Agora, a oferta secou precisamente quando a procura aumentou exponencialmente, vinda sobretudo dos centros de dados (data centers). Na verdade, é muito provável que enfrentemos uma escassez significativa de DRAM em 2026, pois nenhum aumento de preço conseguirá magicamente criar mais chips de memória a curto prazo. Os fabricantes têm de aumentar a capacidade de produção, e não se constroem novas fábricas de um dia para o outro.
A IA e os data centers estão a devorar toda a memória
Como provavelmente já suspeita, a principal culpada desta confusão é a Inteligência Artificial, que está a devorar o stock de GPUs, CPUs, RAM e SSDs.
Claro que pode argumentar que estes data centers não estão a usar os mesmos módulos de RAM que compramos para o nosso portátil ou computador de secretária. O problema não é esse, mas sim o desvio da capacidade de fabrico existente. Visto que os maiores lucros e a procura mais agressiva vêm destes gigantescos serviços de IA, cheios de dinheiro para investir, faz todo o sentido para os fabricantes vender a memória a essas entidades.
O resultado final é que se produz muito menos memória de nível de consumidor, o que limita a oferta e, por consequência, faz disparar os preços.
A transição para DDR5 está a piorar tudo
Há ainda outro fator que se perde na conversa sobre a IA. Ainda estamos na fase de transição entre o DDR4 e o DDR5, que tem sido estranhamente lenta. A verdade é que o DDR4 ainda é mais do que rápido para a maioria das pessoas, e só quem compra ou constrói os sistemas mais recentes é que tem esta nova memória por defeito.
O DDR5 é mais complexo e caro de produzir do que o DDR4, e a produção ainda não aumentou o suficiente para melhorar os preços, mesmo antes desta crise. As taxas de sucesso (yields) nos novos processos de fabrico também não são as melhores (via DarkFlash).
Ironicamente, o DDR4 também está a ficar mais caro, pois a sua produção tem vindo a abrandar. Mesmo assim, ainda existe uma diferença de preço, e se já tem um sistema DDR4, está com sorte, pois continua a ser a opção mais em conta.
Como sobreviver ao RAM-pocalipse
Não há forma de dourar a pílula: esta é uma altura terrível para precisar de comprar RAM. Pior ainda, o problema irá provavelmente persistir durante alguns anos, até que a procura da IA abrande ou até que novas fábricas entrem em funcionamento.
No entanto, não entre em pânico a comprar RAM!
Esse tipo de comportamento é exatamente o que está a causar esta volatilidade extrema nos preços. É o equivalente à crise do papel higiénico que vimos na pandemia.
A menos que tenha uma necessidade crítica de RAM agora, é melhor simplesmente esperar que os preços estabilizem. Se está a usar um sistema DDR4, está perfeitamente bem para trabalhar ou jogar. Para utilizações não profissionais, 32GB de RAM ainda é mais do que precisa e continuará a ser no futuro próximo.
Se realmente precisa de comprar RAM em breve, o melhor é estar atento a promoções, procurar bundles ou negócios de liquidação de stock.
Se está a construir um sistema novo agora, a RAM está tão cara que faz mais sentido comprar uma motherboard com, pelo menos, quatro slots de RAM e preencher apenas duas com o que pode pagar. Isto poupa-lhe algum dinheiro e dores de cabeça se precisar de aumentar a capacidade mais tarde, porque não terá de desperdiçar os módulos que já comprou.
A melhor altura para comprar RAM foi, infelizmente, há mais de um ano. Como não temos máquinas do tempo, o melhor é aguentar esta tempestade e otimizar o que já temos, por exemplo, tentando que o Google Chrome use menos RAM ou reduzindo definições em jogos que consomem mais memória. No entanto, o mais provável é que já tenha toda a RAM de que realmente precisa.
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