
O mundo do streaming de anime continua a ser palco de intensas disputas sobre direitos de autor e pirataria. Desta vez, os holofotes recaem sobre o Hayase, um cliente de torrents focado em anime que tem vindo a ganhar popularidade pela sua interface limpa e organizada. A plataforma, anteriormente conhecida como Miru, está na mira da gigante Crunchyroll e dos seus parceiros de proteção de direitos de autor, que alegam que o software facilita o acesso não autorizado a conteúdos protegidos.
Apesar das pressões legais e de várias tentativas de remoção em diferentes plataformas, o Hayase mantém-se funcional, operando numa zona cinzenta que desafia as abordagens tradicionais de combate à pirataria.
Um "Kodi" para os fãs de anime
Ao contrário dos portais de streaming convencionais que alojam os vídeos nos seus servidores, o Hayase opera de forma distinta. Os programadores descrevem a ferramenta como um cliente de torrents "traga o seu próprio conteúdo" (bring-your-own-content). Na prática, o software funciona apenas como um leitor multimédia e gestor de torrents, dependendo de extensões instaladas pelos utilizadores para localizar e reproduzir os vídeos.
Esta arquitetura assemelha-se à utilizada por softwares populares como o Kodi ou o Popcorn Time. Na sua página oficial no GitHub, a equipa do Hayase sublinha explicitamente que não fornece, indexa, aloja ou liga a quaisquer fontes de conteúdo ou repositórios não oficiais. O objetivo desta declaração é distanciar o projeto de responsabilidades legais diretas, transferindo o ónus da legalidade para o utilizador final, que deve garantir que o conteúdo a que acede está em conformidade com as leis locais.
No entanto, esta distinção técnica não impediu a ação dos detentores de direitos. A MarkScan, parceira da Crunchyroll na gestão de takedowns, enviou recentemente uma notificação DMCA ao GitHub, exigindo a remoção de cerca de duas dezenas de URLs associados ao projeto. A notificação alega que o Hayase "permite o acesso não autorizado a conteúdo de anime", citando regulamentações de TI indianas e a lei de direitos de autor dos EUA.
A resposta dos criadores e o cerco nas plataformas
A situação no GitHub teve um desfecho curioso. Segundo informações avançadas pelo TorrentFreak, a equipa do Hayase optou por não contestar legalmente a notificação, uma vez que o GitHub não lhes forneceu os anexos com as supostas infrações detalhadas. Sem saber exatamente o que estava a ser contestado, os programadores decidiram remover proativamente os ficheiros visados.
Contudo, esta remoção teve pouco impacto prático. Os links em questão já não eram utilizados ativamente no site oficial como fontes de download, resultando apenas em erros 404 que, na prática, satisfizeram o pedido de remoção sem afetar a disponibilidade real do software. O repositório principal permanece online e as aplicações já instaladas continuam a funcionar sem interrupções.
Este não é, porém, o primeiro obstáculo que o projeto enfrenta. O Hayase já foi removido da Google Play Store, que servia como o principal ponto de distribuição para utilizadores Android, obrigando agora ao download manual do ficheiro APK através do site oficial. Além disso, a plataforma Discord também tem sido palco de remoções de mensagens relacionadas com o projeto, alegadamente por infração de direitos de autor.
Estas ações intensificam-se num momento estratégico para a indústria. Recentemente, foi anunciado que a Crunchyroll vai acabar com o plano gratuito com anúncios no final de 2025, uma medida que visa converter mais utilizadores em subscritores pagos. Ironicamente, esta mudança gerou uma onda de reações nas redes sociais que, em muitos casos, acabou por publicitar alternativas como o Hayase a milhões de utilizadores que desconheciam a sua existência.










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