
A indústria dos dispositivos móveis prepara-se para enfrentar um dos anos mais desafiantes da última década, com 2026 a perfilar-se como um período crítico para os custos de produção. Neste cenário de incerteza, a Xiaomi está a delinear um plano de batalha para contrariar a tendência inflacionária do mercado e evitar que os consumidores sintam o peso na carteira, mesmo que isso implique decisões pouco convencionais sobre o hardware dos seus equipamentos.
Desde há vários meses que os especialistas alertam para o aumento galopante nos custos de componentes essenciais, nomeadamente os chips de memória DRAM e NAND. A culpa recai, em grande parte, sobre a procura voraz impulsionada pelas aplicações de Inteligência Artificial e pela infraestrutura dos centros de dados, que absorvem grandes quantidades de memória de alto desempenho. Esta tensão na cadeia de abastecimento está a empurrar muitas marcas a considerar aumentos de preço significativos para 2026, mas a gigante chinesa procura um caminho alternativo.
O dilema da memória e da Inteligência Artificial
A integração de capacidades de IA nos smartphones deixou de ser uma curiosidade para se tornar uma exigência central. Para 2026, espera-se que estas funcionalidades sejam ainda mais sofisticadas, exigindo hardware capaz de processamento local e larguras de banda superiores. No entanto, esta evolução tecnológica é uma faca de dois gumes: obriga à utilização de componentes avançados que encarecem o fabrico de cada unidade.
Enquanto outras marcas poderão optar por transferir diretamente este custo para o consumidor final, resultando numa subida de preço generalizada, a Xiaomi está consciente da sensibilidade do mercado global a estes ajustes. O objetivo da empresa é claro: manter a competitividade e a sua reputação de oferecer qualidade a um custo acessível, evitando que a inovação se torne sinónimo de preços proibitivos.
Regresso ao passado: cortar nas especificações para manter o preço
Para travar a escalada de preços, a Xiaomi está a explorar táticas que podem surpreender os entusiastas de tecnologia. A empresa pondera seriamente recuperar abordagens de design do passado, o que na prática significa ajustar ou até reduzir as especificações técnicas em certos modelos, especialmente nas gamas média e de entrada.
Esta estratégia de "voltar atrás" representa uma inversão na tendência dos últimos anos, onde o foco estava sempre em oferecer mais memória RAM e armazenamento a cada nova geração. Em vez dessa corrida desenfreada, a marca poderá optar por limitar a capacidade de memória DRAM ou utilizar processadores de níveis ligeiramente inferiores em dispositivos específicos. A lógica é simples: sacrificar números na folha de especificações para impedir que o preço final dispare.
Além desta simplificação do hardware, a fabricante está também a otimizar os seus processos de produção e a renegociar acordos com fornecedores. A intenção é absorver internamente parte dos incrementos de custo, protegendo as margens de lucro sem penalizar o utilizador. Com esta abordagem pragmática, a Xiaomi tenta garantir que os seus smartphones continuam a ser uma opção viável para a maioria dos consumidores num cenário económico cada vez mais complexo.