Um novo estudo levanta preocupações sérias: profissionais de saúde que lavam os seus uniformes em casa podem estar, inadvertidamente, a contribuir para a disseminação de bactérias resistentes a antibióticos. Esta prática comum poderá aumentar o risco de infeções em ambiente hospitalar. A investigação, liderada pela Professora Katie Laird da Universidade De Montfort em Leicester (DMU) e publicada esta semana na revista científica PLOS One, acende o debate sobre a higiene hospitalar.
Testes domésticos revelam falhas na desinfeção
A equipa de investigação colocou à prova seis máquinas de lavar roupa domésticas distintas. O objetivo era avaliar a sua eficácia na limpeza de tecidos contaminados com Enterococcus faecium, uma bactéria frequentemente associada a infeções hospitalares. Os resultados foram, no mínimo, preocupantes: apenas metade das máquinas (três em seis) conseguiu desinfetar corretamente os uniformes a 60°C num ciclo completo. Já os ciclos rápidos demonstraram um desempenho inconsistente, revelando-se pouco fiáveis na eliminação de microrganismos.
O que se esconde no interior das máquinas de lavar?
Para compreender melhor a flora bacteriana presente no interior das máquinas de lavar, os cientistas recorreram a uma análise metagenómica "shotgun" para estudar biofilmes em doze máquinas diferentes. As descobertas revelaram que algumas continham bactérias potencialmente perigosas, incluindo espécies de Mycobacterium, Pseudomonas e Acinetobacter. Além disso, foram identificados genes de resistência a antibióticos, que conferem às bactérias a capacidade de sobreviver a tratamentos destinados a erradicá-las.
Detergentes podem piorar o problema da resistência
O estudo investigou também a capacidade dos detergentes domésticos no combate a três bactérias notórias por causarem infeções graves: Staphylococcus aureus, Klebsiella pneumoniae e Pseudomonas aeruginosa. As conclusões foram alarmantes: algumas estirpes bacterianas desenvolveram resistência aos próprios detergentes, o que, por sua vez, as tornou ainda mais resistentes a antibióticos.
Testes genéticos subsequentes identificaram mutações em genes de bombas de efluxo, especificamente o MrgA em S. aureus e o AcrB em K. pneumoniae, após a exposição aos detergentes. Estas bombas ajudam as bactérias a expelir substâncias nocivas, e alterações no seu funcionamento podem comprometer a eficácia dos tratamentos antibióticos.
Implicações sérias e a necessidade de novas diretrizes
Estes resultados sugerem que as máquinas de lavar domésticas podem não ser adequadas para a correta higienização dos uniformes dos profissionais de saúde. Esta lacuna pode contribuir para o aumento das infeções associadas aos cuidados de saúde (IACS) e para o agravamento da resistência antimicrobiana (RAM). Os profissionais de saúde dependem das suas máquinas domésticas, mas se as bactérias sobrevivem à lavagem, podem ser transportadas para os pacientes.
A Professora Laird e a sua equipa defendem que as diretrizes de lavagem de roupa devem ser atualizadas para assegurar uma desinfeção eficaz dos uniformes. Recomendam ainda que os hospitais considerem a transição para máquinas de lavar industriais, substancialmente mais eficientes na eliminação de germes.
A Professora Laird sublinhou a importância da questão: "A nossa investigação demonstra que as máquinas de lavar domésticas frequentemente falham na desinfeção dos têxteis, permitindo a sobrevivência de bactérias resistentes a antibióticos. Se queremos levar a sério a transmissão de doenças infeciosas através dos têxteis e combater a resistência antimicrobiana, temos de repensar a forma como lavamos o que os nossos profissionais de saúde vestem."
Com a resistência a antibióticos a tornar-se um problema de saúde pública global cada vez mais premente, a implementação de políticas de lavandaria hospitalar mais rigorosas poderá ser um passo crucial para garantir a segurança dos pacientes. As unidades de saúde poderão ter de reavaliar os seus métodos de limpeza de uniformes para prevenir a propagação de bactérias perigosas e reduzir as infeções hospitalares.
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