
A Cloudflare, uma das empresas que formam a espinha dorsal da internet moderna, começou silenciosamente a bloquear o acesso a sites de pirataria no Reino Unido. Esta medida representa uma mudança significativa na postura da empresa e alinha-a com os principais fornecedores de internet (ISPs) britânicos, que já cumprem ordens judiciais semelhantes há anos.
Utilizadores que tentam aceder a sites de streaming pirata através da rede da Cloudflare no Reino Unido são agora recebidos com um "Erro 451", uma notificação que indica que o conteúdo está indisponível por razões legais. A justificação aponta para providências cautelares obtidas por estúdios de Hollywood, como a Disney, Netflix e Warner Bros., que obrigam ao bloqueio destes domínios.
Uma mudança silenciosa com um impacto gigante
Ao contrário do que seria de esperar, esta ação não resulta de uma nova batalha legal, mas sim da inclusão da Cloudflare em ordens judiciais já existentes, algumas com vários anos. Anteriormente, estas ordens eram dirigidas apenas a ISPs tradicionais como a BT, Sky e Virgin Media. Agora, a gigante da infraestrutura web junta-se a esta frente de bloqueio.
Segundo a investigação do TorrentFreak, as notificações enviadas à Cloudflare fazem referência a uma ordem do Tribunal Superior de Justiça datada de 8 de agosto de 2025, que parece adicionar a empresa a providências dinâmicas que já estavam em vigor. Estas providências permitem que as listas de domínios a bloquear sejam atualizadas continuamente sem necessidade de um novo processo judicial.
A ponta do iceberg: a verdadeira escala do bloqueio
Embora as ordens judiciais originais mencionem apenas algumas dezenas de domínios, a natureza dinâmica destas decisões judiciais esconde uma realidade muito maior. As listas de bloqueio crescem exponencialmente à medida que novos domínios são adicionados para contornar as restrições iniciais.
Estima-se que o número real de domínios afetados possa já ultrapassar os mil, podendo até ser o dobro. Marcas de pirataria conhecidas como "123movies", "fmovies" ou "Putlocker" contam com centenas de variações de domínios e subdomínios nas listas de bloqueio dos ISPs, e tudo indica que a Cloudflare terá de bloquear uma quantidade semelhante, transformando esta numa das maiores operações de bloqueio da atualidade.
Falta de transparência e a ironia da situação
Um dos aspetos mais criticados deste processo é a total falta de transparência. Após a emissão das ordens iniciais, a adição de novos domínios acontece à porta fechada, sem qualquer escrutínio público. Esta situação torna quase impossível para um utilizador comum determinar se o seu acesso a um site foi bloqueado por erro.
Ironicamente, a própria Cloudflare encomendou recentemente um relatório que destacava os perigos do bloqueio massivo de sites e os riscos que representa para a liberdade na internet. Agora, a empresa encontra-se numa posição em que é um dos principais agentes desse mesmo bloqueio.
Apesar da escalada das medidas, toda esta infraestrutura de bloqueio pode ser facilmente contornada. Uma simples alteração nas definições do navegador de internet é suficiente para restaurar o acesso a todos os sites que a Cloudflare está atualmente a bloquear no Reino Unido.










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