
Sabe aquela velha questão sobre o fim do universo? Se vai continuar a expandir-se para sempre ou se, um dia, vai abrandar e colapsar sobre si mesmo? Pois bem, um novo estudo vem baralhar novamente as contas e colocar tudo em perspetiva. A investigação sugere que a energia escura, a força misteriosa que se acredita ser a responsável pela expansão acelerada do cosmos, pode não ser constante, afinal.
Esta descoberta, publicada na revista científica The Astrophysical Journal, levanta a possibilidade de as propriedades da energia escura estarem a evoluir ao longo do tempo, o que teria implicações profundas sobre o destino final do nosso universo.
As 'lâmpadas' que medem o universo
Para chegar a esta conclusão, os cientistas basearam-se na maior coleção de dados alguma vez reunida sobre supernovas do Tipo Ia. Estamos a falar de 2087 explosões estelares, provenientes de 24 levantamentos astronómicos diferentes. As supernovas deste tipo ocorrem quando certas estrelas chegam ao fim da sua vida e explodem de uma forma incrivelmente previsível.
Como o seu brilho é praticamente sempre o mesmo, os astrónomos usam-nas como "velas padrão" — imagine-as como lâmpadas idênticas espalhadas pelo espaço — para medir distâncias cósmicas. Foram precisamente estas supernovas que, em 1998, levaram à descoberta da expansão acelerada do universo, uma revelação que valeu um Prémio Nobel e deu origem ao conceito de energia escura.
Uma base de dados recorde e uma nova conclusão
Para garantir a fiabilidade dos dados, o projeto internacional Supernova Cosmology Project criou um novo conjunto de dados chamado Union3. Este esforço colocou todas as supernovas na mesma escala de distância e atualizou a análise das suas curvas de luz com um método chamado SALT3. Segundo um comunicado da Universidade do Havai em Mānoa, foi também introduzida uma nova estrutura estatística, a UNITY1.5, para lidar com questões complexas como efeitos de seleção e outras incertezas.
A análise revelou uma tensão fraca, mas notória, com o modelo cosmológico padrão, que assume que a energia escura nunca muda. Os resultados apontam, em vez disso, para uma energia escura em "descongelamento", cujas propriedades se alteram com o tempo. Estas descobertas estão também alinhadas com os resultados de outro projeto que estudou a distribuição de galáxias, reforçando a ideia de que a energia escura pode ser mais complexa do que se pensava.
O estudo foi realizado por investigadores da Universidade do Havai em Mānoa, do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley e de outras instituições em todo o mundo. "Este projeto mostra como a experiência e a capacidade computacional do Havai podem ajudar a responder a algumas das maiores questões do universo. É entusiasmante que o nosso trabalho faça parte de um esforço global para desvendar os segredos da energia escura", afirmou David Rubin, autor principal do estudo e professor no Departamento de Física e Astronomia da universidade.
A equipa já disponibilizou os seus dados à comunidade científica. Com o número de supernovas úteis a aumentar mais de dez vezes nos próximos anos, o futuro da cosmologia promete ser ainda mais interessante. Por agora, uma coisa parece cada vez mais certa: a energia escura não é tão simples como se imaginava.










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