
A febre da Inteligência Artificial (IA) está a levar os investimentos a patamares astronómicos. Segundo a consultora Gartner, o valor global investido na tecnologia deve atingir 1,5 biliões de dólares (cerca de 1,4 biliões de euros) já este ano, podendo ultrapassar os 2 biliões de dólares (1,86 biliões de euros) em 2026. Este valor representa quase 2% do PIB mundial.
Este frenesim financeiro tem um epicentro claro: a construção massiva de centros de dados, as infraestruturas que consomem quantidades gigantescas de energia para alimentar os modelos de IA. A prová-lo está o recente anúncio da Nvidia, que na semana passada revelou um investimento de 100 mil milhões de dólares para ajudar a OpenAI, criadora do ChatGPT, a erguer estas novas catedrais tecnológicas.
Bezos admite: É uma bolha, mas uma bolha benéfica
Até os maiores nomes da tecnologia reconhecem a dimensão especulativa do momento. "Os investidores normalmente não dão 2 mil milhões de dólares a uma equipa de seis pessoas sem produto, e, no entanto, é isso que está a acontecer agora", admitiu Jeff Bezos, fundador da Amazon, numa conferência em Itália. O bilionário, que investiu na startup Perplexity, rival da OpenAI, comparou o cenário às bolhas da internet e da biotecnologia.
"Essas bolhas industriais podem ser benéficas porque, quando a poeira baixa e restam os vencedores, a sociedade se beneficia dessas invenções", defendeu Bezos. Para muitos investidores do Vale do Silício, a IA é vista como a tecnologia mais revolucionária desde a eletricidade, e o foco está em "aproveitar a oportunidade" em vez de se preocupar com os riscos.
A fatura energética e o "financiamento circular"
A corrida à IA é também uma batalha geopolítica. Um relatório da Universidade de Stanford revela que, entre 2013 e 2024, o investimento privado nos Estados Unidos atingiu os 470 mil milhões de dólares, um valor muito superior aos 119 mil milhões da rival China.
No centro de tudo está a OpenAI, avaliada em cerca de 500 mil milhões de dólares. A empresa de Sam Altman supervisiona o projeto Stargate, um consórcio que inclui a Oracle, Microsoft e a própria Nvidia, com o objetivo de construir centros de dados no Texas, num projeto que pode chegar aos 400 mil milhões de dólares.
No entanto, este ecossistema levanta preocupações. Alguns analistas criticam a Nvidia por praticar o "financiamento circular", ou seja, investir em startups que depois usam esses fundos para comprar os seus próprios chips, inflando artificialmente o mercado. Além disso, a fatura energética é colossal. Estima-se que a pegada digital da IA possa chegar aos 200 gigawatts até 2030, o equivalente ao consumo anual de eletricidade do Brasil.
Estamos em 1996 ou 1999? O futuro da IA
Apesar dos lucros crescentes da OpenAI, que gerou cerca de 4,3 mil milhões de dólares no primeiro semestre de 2025, a empresa está longe de ser lucrativa e, ao contrário de gigantes como a Meta ou a Google, depende de financiamento externo. A consultora Bain & Company alerta que a indústria enfrenta um défice de 800 mil milhões de dólares para viabilizar os gastos projetados.
Ainda assim, o otimismo prevalece. "Mesmo com a preocupação com uma possível bolha da IA, consideramos que o setor se encontra em seu momento 1996, o auge da internet. E, definitivamente, não em seu momento 1999, antes do estouro da bolha", comentou Dan Ives, da Wedbush Securities.
Jeff Bezos partilha da mesma visão, garantindo que os benefícios serão "imensos" e que a tecnologia afetará todas as empresas do mundo. "Estamos na era de ouro das viagens espaciais, da inteligência artificial, da robótica (...) Nunca houve um momento melhor para se entusiasmar com o futuro", concluiu.










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