
A Walt Disney Company encontra-se no centro de um turbilhão mediático esta semana, onde as ambições tecnológicas colidem com as expectativas de qualidade dos fãs. O que deveria ser um momento de celebração pelo avanço estratégico na Inteligência Artificial transformou-se numa dor de cabeça de relações públicas, com controvérsias a surgirem em duas frentes distintas: um anúncio embaraçoso na Europa e preocupações profundas sobre a segurança de conteúdos nos Estados Unidos.
A situação atingiu um ponto crítico na passada sexta-feira, quando a Disneyland Paris foi alvo de fortes críticas nas redes sociais. Em causa estava um vídeo promocional de merchandising que utilizava uma narração gerada por IA visivelmente defeituosa. A voz sintética pronunciava incorretamente nomes icónicos, como "Rapunzel" e o "Reino de Corona" do filme Entrelaçados (Tangled). A conta de notícias DLP Report não poupou nas críticas, descrevendo o resultado como uma "voz monótona" e apelando ao fim destas práticas, num incidente que expôs as fragilidades do controlo de qualidade da empresa.
Um negócio de mil milhões e o desafio do Sora
Este incidente de "baixa fidelidade" ocorre, ironicamente, apenas dois dias após a Disney ter anunciado um investimento monumental de mil milhões de dólares na OpenAI. O acordo histórico, previsto para arrancar em 2026, concede à tecnológica os direitos de utilização de mais de 200 personagens do vasto portefólio da Disney, incluindo Marvel, Pixar e Star Wars, na sua plataforma de geração de vídeo Sora.
Trata-se da primeira grande parceria de conteúdo entre a criadora do ChatGPT e um grande estúdio de Hollywood. O plano prevê que vídeos selecionados, gerados pelos utilizadores através desta ferramenta, possam vir a figurar na plataforma de streaming Disney+. No entanto, a implementação prática deste acordo já está a levantar sobrolhos, especialmente no que toca à moderação.
Desde o lançamento do Sora, têm surgido relatos de utilizadores a criar conteúdos que testam os limites da legalidade e do bom gosto, utilizando a estética da Pixar para recriar atrocidades históricas ou cenários ofensivos. Embora ambas as empresas tenham prometido "controlos robustos" e um compromisso com a segurança, restringindo temas como drogas e álcool, a proliferação destes vídeos "não oficiais" levanta dúvidas sobre a eficácia dos filtros futuros.
A revolta de Hollywood e a defesa dos criadores
A parceria não foi bem recebida pelos profissionais da indústria criativa. Conforme detalhado pelo The New York Times, os sindicatos de Hollywood reagiram prontamente com preocupação. O Writers Guild of America classificou a parceria como algo que "parece sancionar o roubo" do trabalho dos guionistas, enquanto o Animation Guild questionou se a Disney aplicará os seus rigorosos padrões de qualidade ao conteúdo gerado por IA, especialmente considerando o impacto no público infantil.
Roma Murphy, do Animation Guild, alertou que os artistas originais destas obras não verão qualquer compensação financeira por esta nova utilização do seu trabalho. Por outro lado, o sindicato SAG-AFTRA já anunciou que irá monitorizar a situação para garantir que os direitos de imagem e voz dos atores são respeitados, num momento em que a proteção dos personagens da Disney e dos seus intérpretes se torna uma batalha central.
Em defesa da estratégia, Bob Iger, CEO da Disney, afirmou que o acordo não representa uma ameaça aos criadores, sublinhando que a parceria exclui explicitamente a utilização de semelhanças e vozes de atores reais. Contudo, entre falhas de pronúncia em Paris e vídeos perturbadores online, a Disney enfrenta agora o desafio de provar que a sua aposta na IA não irá diluir a magia que define a marca há décadas.










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