
O grande apagão que afetou Portugal e Espanha a 28 de abril, deixando milhões de pessoas sem eletricidade durante horas, ainda está fresco na memória de todos. Para evitar que um cenário semelhante se repita, a tecnológica alemã Siemens está a colaborar diretamente com as operadoras de redes elétricas REN, em Portugal, e REE, em Espanha, para modernizar a gestão da infraestrutura. A solução passa por um novo portefólio de software, o Gridscale X.
A notícia, avançada pelo Negócios, revela que esta solução digital, integrada na plataforma Xcelerator da Siemens, visa transformar a forma como as redes elétricas são geridas, tornando-as mais inteligentes e autónomas.
Como funciona a rede elétrica do futuro?
O Gridscale X é um software modular projetado para permitir uma gestão descentralizada e autónoma da rede elétrica. A sua operação baseia-se na recolha e análise de dados provenientes de contadores inteligentes e em previsões meteorológicas detalhadas. Com esta informação, o sistema consegue antecipar picos de produção, como os que ocorrem em dias de sol intenso, e prever possíveis congestionamentos na rede, propondo medidas proativas para evitar falhas.
A necessidade desta tecnologia tornou-se mais premente com o crescente peso das energias renováveis. Fontes como a solar e a eólica, apesar de cruciais para a transição energética, introduzem um elevado grau de imprevisibilidade e instabilidade na rede, devido à sua produção variável e à forma como se ligam de modo descentralizado.
Portugal e Europa já testam a nova tecnologia
Embora Portugal e Espanha já utilizem software da Siemens para a gestão e simulação das suas redes, a empresa alemã defende que é necessário um "upgrade" para a nova geração Gridscale X. A colaboração com os operadores ibéricos já está em andamento e, em território nacional, a Siemens participa em projetos estratégicos em mais de 160 subestações que servem a produção de energia solar e eólica.
A aposta não se fica pela Península Ibérica. O software está a ser testado em vários países europeus, como os Países Baixos, Noruega, Malta e Itália. Em Trieste, por exemplo, a Siemens ajudou a criar um "gémeo digital" da rede elétrica da cidade, permitindo simular e gerir o sistema sem qualquer impacto na infraestrutura real. Em Roma, o projeto RomeFlex, em colaboração com a distribuidora Areti, criou um mercado de flexibilidade onde consumidores e produtores podem ser pagos para disponibilizar energia à rede em momentos de maior necessidade.
O objetivo final da Siemens é alcançar uma gestão de rede 100% autónoma, algo comparável aos sistemas de condução autónoma na indústria automóvel. Segundo a empresa, a tecnologia para o conseguir já existe, faltando apenas que a legislação acompanhe esta evolução.
Apagão revelou as diferenças entre as operadoras móveis
O impacto do apagão não se sentiu apenas na falta de eletricidade. Um relatório da Ookla revelou as fragilidades das redes móveis, com o cenário a ser mais grave em Portugal do que em Espanha. Mais de um terço dos utilizadores móveis portugueses ficaram totalmente sem serviço durante a crise.
Entre as operadoras, a Digi foi a mais afetada, com cerca de 90% dos seus clientes a ficarem sem cobertura móvel por mais de 24 horas. Do outro lado do espectro, a MEO demonstrou ser a mais robusta, graças às suas baterias de reserva que ajudaram a mitigar os efeitos da falha de energia. Durante o pico do apagão, os clientes da MEO tinham metade da probabilidade de perder o serviço em comparação com os da NOS, quatro vezes menos que os da Vodafone e seis vezes menos que os da Digi.
A Vodafone também sentiu um forte impacto, com 70% dos seus clientes ainda sem serviço às 19h30, tendo a recuperação iniciado de forma gradual a partir das 20h00. Já a NOS, que partilha infraestrutura com a Vodafone, conseguiu manter uma maior estabilidade nas zonas onde opera de forma autónoma.