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A febre da Inteligência Artificial está a devorar componentes a um ritmo sem precedentes. Depois das GPUs, a nova crise chegou ao armazenamento. A procura por servidores de IA atingiu um ponto crítico: os discos rígidos (HDDs) tradicionais estão completamente esgotados, com prazos de entrega a estenderem-se já até dois anos. O que parecia um problema de nicho está a evoluir para uma crise global que ameaça arrastar o mercado de PCs nos próximos meses, com a produção dos próximos 48 meses totalmente vendida, conforme avança a Digitimes.

IA esgota discos rígidos para os próximos dois anos

O boom dos servidores de treino e inferência disparou a procura por unidades nearline, as favoritas dos centros de dados para armazenamento de petabytes. O problema é que a produção de HDDs está concentrada nas mãos da Seagate e da Western Digital e funciona num modelo "make-to-order" (produção por encomenda), incapaz de reagir a este pico de procura.

Os gigantes cloud dos Estados Unidos e da China já tiveram de assinar contratos a longo prazo para assegurar as entregas até 2026, e as reservas para 2027 já estão a ser feitas. É um cenário inédito na história da indústria.

Fabricantes de costas voltadas para o problema

Em vez de responderem com uma expansão agressiva da capacidade produtiva, os fabricantes mantêm a cautela. A Seagate planeia aumentar o seu investimento anual em apenas 5%, focando-se mais em melhorias tecnológicas do que em ampliar fábricas. A Western Digital, por sua vez, também não anunciou qualquer estratégia de crescimento tangível. Resumindo: o estrangulamento veio para ficar a curto e médio prazo.

Efeito dominó: SSDs e DRAM entram na crise

A consequência imediata é uma transferência de pressão para os SSDs de grande capacidade (unidades QLC de 128 a 256 TB), que custam três a quatro vezes mais por terabyte. Mas a NAND Flash segue o mesmo caminho.

A produção de QLC para 2026 já está esgotada, mesmo antes do início do ano. Fabricantes como a Micron e a Kioxia estão a negociar preços semanalmente devido à falta de stock. A juntar ao caos, a Samsung reduziu a sua produção devido à transição tecnológica das suas wafers (de V6 para V8).

A Silicon Motion já confirmou o cenário histórico: pela primeira vez, HDDs, NAND Flash e DRAM estão em escassez ao mesmo tempo. A única saída para manter a densidade e os custos sob controlo será acelerar a adoção de QLC e, mais tarde, PLC (5 bits por célula).

O impacto no seu próximo PC

A era dos discos rígidos baratos parece estar a chegar ao fim. A IA mudou as regras do jogo e levou a indústria ao limite. Se os fabricantes não aumentarem o investimento rapidamente, o mercado de PC sentirá o mesmo aperto que os centros de dados.

O dinheiro está na IA, e as linhas de produção de discos para o consumidor serão as primeiras a ser sacrificadas para responder à procura empresarial. Para o utilizador comum, as opções em breve poderão ser apenas duas: pagar muito mais pelo armazenamento ou esperar muito tempo por ele.