Pela primeira vez em mais de dez anos, a dominância quase absoluta do Google no mercado de pesquisa online mostra sinais de abrandamento. Dados recentes da StatCounter revelam que a quota de mercado global do Google Search caiu para 89,71%, considerando todas as plataformas. Esta é a primeira vez que o gigante da tecnologia regista um valor abaixo da marca dos 90% numa década. A tendência é ainda mais acentuada nos computadores desktop, onde a sua presença desceu para 79,14%.
Embora uma queda percentual possa parecer marginal para uma empresa da dimensão da Google, é importante contextualizar. Com uma base estimada de 5,5 mil milhões de utilizadores de internet a nível mundial, esta descida representa que dezenas de milhões de pessoas estão a optar por motores de busca alternativos. Com efeito, a fasquia abaixo dos 90% significa que, atualmente, aproximadamente um em cada dez internautas utiliza um serviço concorrente para as suas pesquisas online.
O que explica esta mudança no cenário da pesquisa?
Ainda não existe uma análise definitiva que aponte um único culpado para esta perda de utilizadores por parte do Google Search. No entanto, vários fatores parecem estar a contribuir para esta tendência:
- A Ascensão da Inteligência Artificial Generativa: Ferramentas como o ChatGPT e o Copilot ganharam enorme popularidade ao oferecerem respostas diretas às questões dos utilizadores. Muitos preferem esta abordagem em vez de percorrerem listas de links, mesmo que a fiabilidade das respostas da IA possa, por vezes, ser questionável. O próprio Gemini, a aposta da Google neste campo, ainda procura afirmar-se face aos rivais.
- Privacidade e Qualidade em Foco: Verifica-se um crescente interesse por motores de busca alternativos que colocam a privacidade do utilizador em primeiro plano. Serviços como o DuckDuckGo têm vindo a ganhar tração junto de quem procura uma experiência de pesquisa menos intrusiva. A isto somam-se queixas de alguns utilizadores sobre a qualidade decrescente dos resultados do Google, por vezes inundados por páginas de baixa qualidade otimizadas agressivamente para motores de busca (SEO), muitas delas geradas por IA com o intuito de rentabilizar publicidade.
- O Impacto da Legislação Europeia: A Lei dos Mercados Digitais (DMA) na União Europeia obrigou grandes plataformas tecnológicas, incluindo a Google, a apresentar aos utilizadores opções claras sobre o navegador e o motor de busca que desejam utilizar por defeito. Esta medida parece ter impulsionado a adoção de alternativas na Europa, onde a quota de mercado desktop do Google caiu de 87,08% para 77,78% nos últimos três anos.
Domínio Inabalável no Mobile
Apesar destes desafios, o Google Search mantém uma posição extremamente confortável no segmento móvel. Aqui, a sua quota de mercado permanece nuns impressionantes 94%. Uma das razões poderá residir no facto de a DMA, até ao momento, não exigir que navegadores móveis populares de terceiros (como o Safari da Apple, o Opera ou o Samsung Internet) implementem ecrãs de escolha para o motor de busca padrão. Assim, o Google continua a ser a opção pré-definida para a vasta maioria dos utilizadores de smartphones e tablets.
Em suma, embora o Google Search enfrente novos desafios decorrentes da concorrência da IA, das preocupações com a privacidade e das pressões regulatórias, a sua posição global, especialmente no crucial mercado móvel, permanece dominante. Contudo, a recente quebra abaixo dos 90% é um marco simbólico e uma tendência que certamente continuará a ser observada de perto.
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