A Cloudflare avançou com um novo conjunto de medidas destinadas a controlar os crawlers de inteligência artificial (IA) que vagueiam pela Internet a extrair conteúdos. A partir de agora, os novos clientes da plataforma terão por defeito o bloqueio a estes bots, e foi ainda lançada uma nova experiência que permitirá aos criadores cobrarem pelo acesso.
A resposta à "ameaça existencial" dos chatbots
Matthew Prince, o CEO da Cloudflare, descreveu a situação atual como uma "ameaça existencial" para os editores e criadores de conteúdo. O modelo de negócio de muitos sites depende das receitas de publicidade geradas pelas visitas. No entanto, com a ascensão dos chatbots, os utilizadores obtêm respostas diretas sem precisarem de clicar nos links de origem, o que corta essa fonte de rendimento vital.
"O conteúdo original é o que faz da Internet uma das maiores invenções do último século, e é essencial que os criadores continuem a produzi-lo", afirmou Prince num comunicado sobre as atualizações, publicado no site oficial da empresa. "O nosso objetivo é devolver o poder aos criadores, enquanto ainda ajudamos as empresas de IA a inovar. Trata-se de salvaguardar o futuro de uma Internet livre e vibrante com um novo modelo que funcione para todos".
Como funciona o bloqueio e o novo "pagar para rastrear"
A primeira grande alteração é que qualquer novo cliente que se inscreva na Cloudflare para gerir o tráfego do seu site será imediatamente questionado se pretende permitir ou bloquear os crawlers de IA. Esta medida torna o bloqueio a opção padrão, simplificando um processo que antes exigia uma configuração manual, embora a empresa já oferecesse uma ferramenta gratuita para este fim desde 2024. Grandes nomes da comunicação social como a Condé Nast, a TIME e a Associated Press já aderiram a este bloqueio.
Adicionalmente, a Cloudflare iniciou uma experiência privada chamada "pay per crawl" (pagar para rastrear). Este sistema permite que os editores cobrem uma taxa aos bots de IA pelo acesso ao seu conteúdo. Tecnicamente, funciona da seguinte forma:
Sempre que um crawler de IA solicita conteúdo, ou apresenta uma intenção de pagamento para obter acesso (resposta HTTP 200), ou recebe uma resposta
402 Payment Required
(Pagamento Obrigatório) com o preçário.A Cloudflare regista estas transações e fornece a infraestrutura técnica.
Os editores mantêm controlo total, podendo definir um preço fixo por pedido ou permitir que certos crawlers acedam gratuitamente ao seu conteúdo.
O futuro é um mercado de conteúdos?
A empresa norte-americana sublinha que a iniciativa "pay per crawl" está ainda numa fase muito inicial e espera que evolua no futuro. A Cloudflare manifesta ainda o seu apoio ao desenvolvimento de outros mercados e métodos para cobrar aos crawlers de IA pelo conteúdo que consomem.
A visão a longo prazo poderá incluir um mercado onde a precificação seja dinâmica, permitindo aos editores cobrar valores diferentes por tipos de conteúdo distintos. Esta abordagem procura criar um novo modelo económico para a web na era da inteligência artificial, onde o valor do conteúdo original é reconhecido e devidamente compensado.
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