É quase uma regra não escrita no mundo da tecnologia: as versões chinesas dos smartphones tendem a oferecer especificações ligeiramente superiores às que chegam ao mercado global, especialmente no que toca à capacidade das baterias ou velocidades de carregamento. No entanto, com a nova família Xiaomi 17, a situação inverteu-se de forma curiosa. Desta vez, os consumidores na Europa vão beneficiar de uma tecnologia de conectividade mais avançada do que os utilizadores no país de origem da marca.
Não se trata de uma falha na produção ou de uma decisão de corte de custos, mas sim de uma complexa teia burocrática que obrigou a marca a "adormecer" o potencial do seu hardware na China.
O conflito entre o Snapdragon de topo e a burocracia
No interior de toda a gama Xiaomi 17 encontra-se o poderoso processador Snapdragon 8 Elite Gen 5 da Qualcomm. Este componente integra o sistema FastConnect 7900, uma peça de engenharia preparada para gerir as mais recentes normas de comunicação sem fios, incluindo o Bluetooth 6.0 e a tecnologia de banda ultra larga (UWB).
Contudo, apesar de o hardware ser fisicamente idêntico em todas as unidades produzidas, a Xiaomi viu-se forçada a desativar estas funcionalidades via software nas unidades vendidas na China. A responsabilidade recai sobre a SRRC, o organismo regulador chinês, que mantém um controlo estrito sobre o espectro de frequências de 2,4 GHz.
A nova funcionalidade "Channel Sounding" do Bluetooth 6.0, que utiliza ondas contínuas para medir distâncias com precisão, entra em conflito direto com as atuais leis de interferência naquele país. Como os protocolos de certificação locais ainda não estão atualizados para esta tecnologia, a marca optou por limitar o dispositivo no lançamento, bloqueando a função no código do HyperOS para o mercado doméstico.
Europa recebe a versão "desbloqueada"
Para os consumidores internacionais, o cenário é bastante mais positivo. A versão global do dispositivo, identificada pelo modelo 2512BPNDAG, já recebeu a aprovação da FCC, o que indica que não existem barreiras de software a limitar o desempenho da conectividade nestes mercados.
Embora para o utilizador comum a transição do Bluetooth 5.4 para o Bluetooth 6.0 possa não parecer uma revolução imediata no dia a dia, as vantagens técnicas são inegáveis. O novo padrão oferece uma precisão de localização ao nível do centímetro, uma característica fundamental para a segurança e fiabilidade das chaves digitais (como as usadas para destrancar automóveis ou casas inteligentes), tornando-as imunes a certos tipos de ataques externos. Além disso, a eficiência energética foi aprimorada, o que ajuda a poupar a bateria do dispositivo.
Enquanto os utilizadores na China terão de esperar por uma eventual atualização de software que desbloqueie estas capacidades — assim que a regulação o permitir —, quem comprar o equipamento na Europa terá acesso total a estas funcionalidades desde o primeiro dia.
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