Ano 2050. A equipa de cientistas que habita a estação lunar reporta à Terra que os satélites da Universidade de Aveiro (UA) estão a trabalhar na perfeição. Recentemente colocados em órbita na Lua, os satélites têm por missão captar energia solar para alimentar todo o funcionamento da estação. O projeto energético começou a ganhar forma no longínquo ano de 2020 com a construção de um protótipo de um satélite que hoje está no museu da Agência Espacial Europeia (ESA).
A história é, em parte, fictícia. Mas, se tudo correr conforme desejam os cientistas da UA, pode vir a ser bem real daqui a algumas décadas. O projeto, apoiado pela ESA, prevê a construção de um conjunto de satélites que, depois de serem colocados em órbita na Lua, consiga captar energia solar e transferi-la para uma estação lunar de forma a alimentar todo o respetivo funcionamento.
O primeiro protótipo já está a ser construído por uma equipa de investigadores da UA sediados no Departamento de Eletrónica, Telecomunicações e Informática (DETI), no Departamento de Física (DFis), no Instituto de Telecomunicações, no Instituto de Engenharia Eletrónica e Telemática de Aveiro (IEETA) e no CICECO - Instituto de Materiais de Aveiro.
“O objetivo é energizar a futura estação habitável a ser construída na face da Lua”, explica Nuno Borges de Carvalho, diretor do DETI, especialista em sistemas de rádio frequência (transmissão de energia sem fios) e responsável geral do projeto.
Na linha da frente da equipa multidisciplinar, estão também Rui Escadas, do DETI e do IEETA e responsável pela parta das baterias a bordo do satélite, e Rute André, investigadora do DFis e do CICECO e responsável pelos painéis solares para receção de energia solar abordo do satélite.
Para que a ficção venha a ser uma realidade, os planos preveem uma constelação modular de satélites que orbitará a Lua passando diretamente por cima da base lunar. Quando sob luz solar direta, os painéis solares acoplados aos satélites e revestidos por materiais luminescentes gerarão eletricidade com maior eficiência do que os simples painéis solares usados hoje na Terra.
Esta energia, explica Nuno Borges Carvalho, será armazenada em baterias, até o satélite estar mais próximo da estação lunar. Neste ponto, “a energia será irradiada para a estação lunar através de antenas e focalizada por lentes para reduzir as perdas por transbordamento”. Desta forma, “será possível fornecer energia para estações lunares, mesmo durante a longa noite lunar”.
“Um dia na Lua correspondem a 15 dias na Terra”. Ou seja, uma estação lunar estará sempre sujeita a 15 dias de luz seguido de 15 dias de escuridão. Com painéis solares a rodar no satélite, a captação de energia é permanente já que os painéis estão sempre virados para o Sol e as antenas, para descarregarem energia, sempre viradas para a Lua”.
O investigador lembra ainda que a captação de energia solar no espaço é muito mais eficaz do que na Terra. Para além de que no nosso planeta os painéis só funcionam algumas horas por dia, “a nossa atmosfera filtra uma enorme quantidade de comprimentos de onda, o que não permite receber a energia na plenitude”, adianta Nuno Borges de Carvalho lembrando que na Lua, por não haver atmosfera, esse problema não se coloca.
Por isso, na mente dos investigadores está também a ideia de um dia os mesmos satélites poderem enviar energia não só para a estação lunar, mas também para a Terra.
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