Muitos já devem ter tido ideias que consideram brilhantes de aplicações, sites e projetos online, que apenas não são lançados porque programação é complicada. E não deixa de ser verdade: aprender programação, seja em que linguagem for ou do formato, não é uma tarefa simples, e normalmente envolve conhecimentos avançados e anos de aprendizagem e experiência.
No entanto, numa era em que a Inteligência Artificial está em todo o lado, uma nova tendência começa agora também a surgir. O desenvolvimento de software está a evoluir para algo diferente, onde utilizadores com poucos ou até nenhuns conhecimentos de programação podem construir apps, websites e aplicações em apenas algumas horas. Eis a entrada do “Vibe Coding”.
> O que é?
O termo começou a surgir de forma relativamente recente, tendo sido primeiro apresentado pelo especialista em IA Andrej Karpathy. A ideia consiste em programar com a ajudar de IA, onde a pessoa a programar podem nem ter qualquer conhecimento de programação. A tecnologia tem vindo a evoluir de tal forma que muitos consideram que a IA pode vir a ser usada para esta tarefa no futuro.
Existem plataformas que ajudam nesta tarefa, como é o caso da Cursor, Bolt e Claude. Os utilizadores basicamente escrevem o que pretendem, e as plataformas criam o código final “pronto a usar”. Algo que poderia demorar dias ou semanas a criar pode, com recurso a estas ferramentas, ser criados em apenas algumas horas. E mesmo que existam erros ou falhas, pode-se sempre pedir à IA para corrigir os bugs ou aplicar alterações no que exista da mesma forma como se pediu para criar inicialmente.
A ideia de pedir à IA para criar algo, e ver o projeto nascer praticamente do nada – e mais importante, a funcionar – é algo que certamente estimula algumas pessoas.
Programar com a ajuda de IA não é algo inteiramente novo, e na verdade existem vários testes feitos aos modelos de IA focando-se nessa área. Mas agora a tendência parece ainda mais abrangente e popular, em parte porque a IA evoluiu de forma considerável, e também porque existem mais plataformas que permitem dedicar-se a esta tarefa.
Plataformas como o Gemini começaram recentemente a receber o “Canvas”, que permite que o código possa ser rapidamente criado, mas ainda assim estes modelos focam-se mais num uso geral. As plataformas focadas para a programação por AI são mais focadas, com modelos dedicados para serem apenas usados nessa tarefa – e teoricamente, melhores na tarefa.
Ao mesmo tempo, a prática tem ganho cada vez mais adeptos tendo em conta o próprio mercado onde se encontra a IA. Cada vez mais temos plataformas a indicar a IA para solucionar muitos problemas, e usar a mesma para programação é certamente um ponto válido.
Embora o Vibe Coding tenha os seus benefícios, pois permite aos utilizadores terem uma forma de desenvolver algo mesmo sem conhecimentos básicos de programação, ao mesmo tempo é uma prática que começa a causar algumas controvérsias.
> Os problemas?
Antes de mais, a ideia de usar IA para programação, como vimos anteriormente, não é nova. Mas até agora, esta era usada apenas para pequenos ajustes, identificação de erros ou melhorias, onde eram programadores com alguns conhecimentos que usavam a mesma para adaptarem e melhorarem as suas aplicações.
Ou seja, mesmo que a IA ainda criasse o código, os programadores ainda se encontravam na frente para analisar o mesmo e identificar o que foi feito. Com o vibe coding, como temos utilizadores que podem nem nunca ter programado, estes também não possuem conhecimentos necessários para analisarem o código criado.
Isto pode ter uma onda de problemas. Primeiro, a qualidade final do código criado por este meio ainda será bastante inferior ao do que seria criado por um programador. A isto junta-se ainda o facto que existem erros que nem mesmo a IA pode conseguir resolver, e que envolve análises sobre o código por alguem com experiência.
Mas um dos pontos mais preocupantes encontra-se a nível da segurança. Embora o vibe coding possa ser usado para pequenos projetos simples, que provavelmente nem envolvem muitas preocupações a nível de segurança, quando se coloca algo mais avançado em conta, poderemos ter projetos a serem desenvolvidos com este método que terão a capacidade de tratar dados importantes – como dados dos utilizadores.
Embora a IA seja capaz de criar o código de base, esta não é capaz de analisar se o mesmo é seguro ou se possui falhas de segurança. Portanto, isso pode abrir as portas para que mais software venha a surgir com graves falhas, e que podem levar a roubos de dados, sistemas infetados ou situações maliciosas em massa.
A par com este, existe ainda o receio de que mais empresas possam vir a adotar o termo apenas por ser algo novo, e que comecem a contratar pessoas com zero conhecimentos de programação para realizarem tarefas avançadas de tal. Isso pode levar a que engenheiros com experiência venham a ser substituídos por funcionários muitas vezes mais baratos para a empresa.
Já existem atualmente plataformas criadas com a única intenção de contratar pessoas que estejam dispostas a realizar vibe coding, e existem empresas que procuram ativamente essas pessoas - sobretudo startups em vários países.
Existem empresas que já começam a procurar pessoas para cargos de “vibe coding”, tanto porque é mais barato no final, como também se evita de ter equipas com uma quantidade elevada de programadores, que podem ser substituídos por apenas uma pessoa em “vibe coding”.
Muitos apologistas da prática consideram que a mesma pode ser um bom ponto de entrada para quem pretenda começar a aprender a programar. O problema encontra-se quando a ideia original vai mais longe do que simplesmente isso, e consiste em criar algo e lançar para o mercado, mesmo que não se tenha qualquer ideia de como é feita.
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