A conhecida plataforma de design gráfico Freepik revelou esta terça-feira um novo modelo de inteligência artificial (IA) generativa, focado na criação de imagens, denominado F Lite. A grande novidade deste modelo reside no seu treino: foi desenvolvido utilizando exclusivamente imagens "seguras para o trabalho" (safe-for-work) e que possuem licenças comerciais, procurando assim contornar as complexas questões de direitos de autor que têm marcado a indústria da IA.
O Contexto dos Direitos de Autor na IA Generativa
O lançamento do F Lite ocorre num momento particularmente sensível para a IA generativa. Gigantes da indústria, como a OpenAI (criadora do ChatGPT e DALL-E) e a Midjourney, enfrentam atualmente processos legais significativos relacionados com a violação de direitos de autor. A controvérsia centra-se na prática comum de treinar estes modelos com enormes volumes de dados recolhidos da internet, que frequentemente incluem material protegido por direitos de autor, sem a devida compensação aos criadores originais.
Embora muitas empresas argumentem que esta prática se enquadra no conceito de "uso justo" (fair use), muitos artistas, fotógrafos e detentores de propriedade intelectual discordam veementemente. O F Lite da Freepik, ao utilizar apenas um conjunto de dados licenciado e controlado internamente, posiciona-se como uma alternativa que procura maior segurança jurídica e ética.
Desenvolvimento e Capacidade Técnica
O desenvolvimento do F Lite foi realizado em parceria com a startup de IA Fal.ai. O modelo possui cerca de 10 mil milhões de parâmetros – os componentes internos que definem o seu funcionamento. O treino intensivo decorreu ao longo de dois meses, recorrendo a um conjunto de 64 poderosas GPUs Nvidia H100, um hardware de ponta utilizado para tarefas de computação de alta performance.
Duas Versões para Diferentes Necessidades
A Freepik disponibilizou duas variantes do F Lite, ambas treinadas com base num acervo interno de aproximadamente 80 milhões de imagens:
- Standard: Esta versão é descrita como mais previsível e fiel às instruções (prompts) fornecidas pelo utilizador, ideal para quem procura resultados mais controlados.
- Texture: Embora potencialmente mais "propensa a erros", esta variante foca-se em entregar texturas de maior qualidade e composições visualmente mais criativas e arrojadas.
Um Modelo Aberto, Mas Exigente
A Freepik clarifica que o seu objetivo com o F Lite não é, necessariamente, competir diretamente em termos de qualidade de imagem com os modelos mais avançados do mercado, como o Midjourney V7 ou a família Flux da Black Forest Labs. A intenção principal é oferecer um modelo "aberto", permitindo que developers e entusiastas o possam utilizar, modificar e melhorar livremente para os seus próprios projetos.
Contudo, aceder a esta flexibilidade tem um custo em termos de hardware. Executar o F Lite requer uma placa gráfica (GPU) com, no mínimo, 24GB de VRAM (memória de vídeo). Este é um requisito considerável, que coloca o modelo fora do alcance de muitos computadores pessoais convencionais.
A Tendência dos Modelos Treinados com Dados Licenciados
O F Lite junta-se a um grupo crescente de modelos de IA para geração de media que apostam em dados licenciados. Empresas como a Adobe (com o seu modelo Firefly), Bria, Getty Images, Moonvalley e Shutterstock estão a seguir caminhos semelhantes, procurando oferecer ferramentas criativas que respeitem os direitos de propriedade intelectual. O desfecho das atuais batalhas legais sobre direitos de autor na IA poderá ditar um crescimento exponencial deste mercado de modelos "eticamente treinados".
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