
Num alerta que está a ecoar pelos mercados globais, o Fundo Monetário Internacional (FMI) revelou que metade dos ativos financeiros do mundo já não está nas mãos dos bancos tradicionais, mas sim num crescente e menos regulado setor de intermediários financeiros não bancários, conhecidos como "nonbanks". Num relatório publicado esta terça-feira, a instituição avisa que esta mudança está a criar novas e perigosas vulnerabilidades que ameaçam a estabilidade de toda a economia.
Estas entidades, que incluem desde fundos de investimento e pensões a seguradoras e veículos de crédito privado, formam uma espécie de sistema financeiro paralelo que, apesar de crucial para a economia, opera com menos transparência e regras mais leves.
O gigante financeiro que ninguém vê
Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), os "nonbanks" tornaram-se peças centrais nos mercados de capitais, sendo já responsáveis por metade do volume diário de negociação em mercados cambiais. O problema, aponta o FMI, é a crescente e complexa teia de interligações com a banca tradicional.
Muitos bancos, tanto nos Estados Unidos como na Zona Euro, têm exposições a estas instituições que ultrapassam o seu capital de nível 1 ("Tier 1") — a principal reserva de segurança para absorver perdas em tempos de crise. Esta dependência transforma os nonbanks num potencial canal de contágio em larga escala.
Risco de contágio em testes de stress
O FMI não se ficou pelos avisos e realizou testes de stress para medir o perigo real. As conclusões são preocupantes: "vulnerabilidades nestes intermediários não bancários podem ser rapidamente transmitidas ao sistema bancário nuclear, amplificando choques e dificultando a gestão de crises".
Os analistas estimam que, num cenário de crise em que os nonbanks esgotem as suas linhas de crédito, cerca de 10% dos bancos norte-americanos e 30% dos bancos europeus (em termos de ativos) veriam os seus rácios de capital cair mais de 100 pontos base, um impacto significativo que poderia colocar em causa a sua solvência.
A falta de regulação e transparência agrava o cenário. Ao contrário dos bancos, a maioria dos nonbanks divulga informação limitada sobre os seus ativos, níveis de alavancagem e liquidez, tornando difícil para as autoridades detetar os riscos antes que seja tarde demais.
Um apelo urgente à regulação
Perante esta nova realidade, o FMI apela a uma ação coordenada e urgente por parte dos reguladores globais. A instituição defende que é essencial reforçar a resiliência dos bancos, nomeadamente através da implementação total das normas de Basileia III, e, ao mesmo tempo, criar um quadro regulatório mais robusto e abrangente para o setor não bancário.
As recomendações passam por uma melhor recolha de dados para mapear as interligações, a realização de análises de liquidez a todo o sistema e uma maior coordenação entre os supervisores dos diferentes setores financeiros. O objetivo é claro: garantir que o crescimento deste "sistema financeiro sombra" não se torne na faísca da próxima crise financeira global.











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