A agência de Imigração e Alfândega dos EUA (ICE) acaba de assinar um novo contrato de 5,7 milhões de dólares (cerca de 5,3 milhões de euros), válido por cinco anos, para licenças de software de vigilância de redes sociais baseado em inteligência artificial. A ferramenta em questão, desenvolvida pela Zignal Labs, utiliza IA e machine learning para analisar uns impressionantes oito mil milhões de publicações diárias nas redes sociais, fornecendo feeds de deteção personalizados para as autoridades.
As licenças destinam-se à Homeland Security Investigation (HSI), a unidade de inteligência da ICE especializada na análise de dados em tempo real para investigações criminais. Esta medida surge num momento em que a agência intensifica as suas operações, na sequência do regresso do Presidente Trump à Casa Branca e da sua política de deportação de imigrantes que o governo considera não terem o direito de permanecer no país.
A plataforma da Zignal Labs, segundo o site Jacobin, é também utilizada pelas forças militares israelitas e pelo Pentágono. O Departamento de Segurança Interna (DHS), agência-mãe da ICE, adquiriu as primeiras licenças da Zignal Labs para os Serviços Secretos dos EUA em 2019.
O arsenal tecnológico da agência
Este não é o único trunfo tecnológico no arsenal da ICE. A agência recorre a outras ferramentas como o ShadowDragon, para mapear a atividade online, e o Babel X, que estabelece ligações entre perfis de redes sociais, números de segurança social e localizações.
Recentemente, a agência assinou também um contrato de 7 milhões de dólares (aproximadamente 6,5 milhões de euros) com a SOS International LLC (SOSi) para serviços de "skip tracing", que ajudam a localizar pessoas. Além disso, a ICE tem planos para criar uma equipa dedicada a monitorizar as redes sociais 24 horas por dia, todos os dias.
Privacidade e liberdades civis em causa
No entanto, este reforço da vigilância não está a ser bem recebido por todos. A ACLU (American Civil Liberties Union) já veio a público criticar a medida, alertando para os perigos de uma "tecnologia de caixa preta" que levanta sérias preocupações sobre a privacidade e a liberdade de expressão.
Este tipo de vigilância digital em larga escala por parte do governo norte-americano não é uma novidade, tendo sido amplamente exposto pelas fugas de informação de Edward Snowden durante a administração Obama. A utilização de ferramentas de IA cada vez mais poderosas para a vigilância de cidadãos promete continuar a ser um dos temas mais quentes e controversos da era digital, colocando em confronto a segurança nacional com os direitos fundamentais.
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