
A DeepSeek, uma das gigantes tecnológicas chinesas de inteligência artificial (IA) que se tornou um símbolo da resiliência do país, manteve-se em silêncio durante meses. Agora, ressurgiu publicamente, não com fanfarra, mas com um aviso surpreendentemente sombrio sobre o futuro do trabalho.
O aviso de Chen Deli
Chen Deli, investigador sénior da DeepSeek, marcou a primeira aparição pública de um representante da empresa desde fevereiro com uma declaração de forte impacto. Durante a Conferência Mundial da Internet em Wuzhen, um evento organizado pelo Estado, Chen admitiu ser "extremamente otimista em relação à tecnologia, mas pessimista quanto ao seu impacto na sociedade", segundo a Reuters.
A sua previsão foi clara: dentro de cinco a dez anos, a IA atingirá um nível de sofisticação suficiente para começar a substituir postos de trabalho humanos. Numa ou duas décadas, poderá assumir as restantes funções.
"A sociedade poderá enfrentar um enorme desafio", afirmou Chen, acrescentando que "as empresas de tecnologia precisam de assumir o papel de defensoras".
Porque é que esta declaração é tão relevante
Esta honestidade é invulgar, especialmente vinda de uma empresa que o governo chinês transformou num dos seus "seis pequenos dragões" da IA. Quando líderes tecnológicos ocidentais, como Sam Altman da OpenAI, falam em riscos apocalípticos, soa muitas vezes a uma estratégia de marketing para valorizar a empresa.
No entanto, quando um diretor de uma empresa apoiada por Pequim o diz numa conferência governamental, a mensagem ganha contornos de uma diretriz oficial. Este discurso surge meses após o fundador da DeepSeek se ter reunido pessoalmente com Xi Jinping.
O silêncio e o regresso da DeepSeek
A DeepSeek captou a atenção mundial em janeiro com o lançamento do DeepSeek-R1, um modelo de linguagem (LLM) open-source de baixo custo que rivalizava com os gigantes norte-americanos. Pouco depois, em fevereiro, o seu fundador, Liang Wenfeng, participou num simpósio televisionado com Xi Jinping.
Desde então, a empresa adotou um silêncio absoluto, faltando a todas as principais conferências de tecnologia na China, até agora.
O novo foco na regulação
Apesar do aviso, a DeepSeek continua a ser uma peça central na estratégia de IA da China. Fabricantes de chips como a Cambricon e a Huawei já desenvolveram hardware compatível com os seus modelos.
Em setembro, a empresa lançou uma versão "experimental" do seu modelo V3. O destaque não foi a eficiência, mas sim a criação de uma alternativa à API CUDA da NVIDIA e o seu suporte nativo para GPUs chinesas.
O discurso parece estar a mudar. Recentemente, Xi Jinping propôs a criação de um organismo global para governar a IA. Agora, a DeepSeek, porta-estandarte da tecnologia chinesa, descreve-a como uma ameaça que exige uma abordagem unificada. A narrativa oficial na China parece estar a transitar da euforia e triunfo tecnológico para uma postura focada na regulação preventiva.










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