
A Nvidia encontra-se, de forma inesperada, no epicentro de um conflito geopolítico e comercial crescente entre os Estados Unidos e a China. Confrontada com restrições cada vez mais apertadas à exportação para um dos seus maiores mercados, a gigante dos chips respondeu com o desenvolvimento de uma versão menos potente de um dos seus produtos, conhecida como H20. Contudo, a estratégia parece estar a ter consequências indesejadas, com a empresa a ceder uma fatia de mercado significativa a concorrentes locais.
A ascensão dos rivais locais e a queda da gigante verde
De acordo com uma análise da empresa de research e corretagem CNBC, através da Bernstein, a quota de mercado da Nvidia no segmento de chips de Inteligência Artificial (IA) na China deverá cair para 54% em 2025. Este número representa uma descida considerável face aos 66% que a empresa detinha no ano passado.
A análise da Bernstein baseia-se no pressuposto de que os Estados Unidos não irão alterar as suas atuais políticas de exportação de chips para a China. "Os controlos de exportação dos EUA criaram uma oportunidade única para os fornecedores domésticos de processadores de IA, uma vez que não estão a competir com as alternativas globais mais avançadas", acrescenta o relatório. Prevê-se que "o rácio de localização do mercado chinês de chips de IA irá disparar de 17% em 2023 para 55% até 2027".
Enquanto as empresas chinesas enfrentam obstáculos crescentes no acesso aos chips da Nvidia, o apoio aos fornecedores locais, como a Huawei, Cambricon e Hygon, intensifica-se.
H20: a solução condicionada que abriu a porta à concorrência
Inicialmente, o governo dos EUA impôs restrições à exportação até mesmo sobre estes chips H20, impedindo a Nvidia de os vender a clientes chineses. Após meses de avanços e recuos regulatórios, a Nvidia conseguiu autorização para retomar as vendas na China, mas não sem que isso deixasse marcas.
Apesar da Nvidia ter sido recentemente alvo de escrutínio por parte dos reguladores chineses devido a alegações de que os seus chips contêm uma "backdoor", as forças militares da China parecem manter um elevado interesse na aquisição da tecnologia da empresa norte-americana.
EUA jogam xadrez para travar o domínio total da Huawei
A decisão de permitir que a Nvidia retome as vendas do chip H20 na China tem um objetivo estratégico claro: travar o crescimento e o domínio da Huawei no mercado chinês. A confirmação foi dada por David Sacks, o responsável da Casa Branca para as áreas de IA e criptomoedas.
"Existe um argumento convincente de que simplesmente não se quer entregar todo o mercado chinês à Huawei quando a Nvidia é capaz de competir por uma grande fatia do mesmo com um chip depreciado e menos capaz", afirmou Sacks numa entrevista a Ed Ludlow, da Bloomberg. A estratégia passa por permitir uma concorrência limitada para evitar um monopólio ainda mais prejudicial aos interesses norte-americanos.










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