
A integração de novas ferramentas tecnológicas no tecido empresarial é um processo contínuo, mas os dados mais recentes mostram que Portugal está a avançar a duas velocidades distintas no que toca à modernização. Segundo as estatísticas divulgadas esta sexta-feira pelo Instituto Nacional de Estatística (INE), apenas 11,5% das empresas nacionais utilizam atualmente tecnologias de inteligência artificial. Embora este valor represente um crescimento de 2,9 pontos percentuais em comparação com 2024, a análise detalhada revela um cenário de contrastes profundos dependendo da dimensão da organização.
O fosso entre gigantes e pequenas empresas
Os números do Inquérito à Utilização de Tecnologias da Informação e da Comunicação nas Empresas deixam claro que a capacidade de investimento e a escala são fatores determinantes na adoção destas ferramentas. Nas grandes empresas, aquelas que empregam 250 ou mais trabalhadores, a realidade é bastante diferente da média nacional: quase metade (49,1%) já recorre a soluções de IA nas suas operações.
Este cenário muda drasticamente à medida que a dimensão da empresa diminui. Nas médias empresas (entre 50 e 249 pessoas), a taxa de utilização cai para os 18,2%, enquanto nas pequenas empresas (10 a 49 pessoas), a adoção fica-se pelos 9,4%. Apesar desta disparidade, é positivo notar que todos os segmentos registaram crescimento face ao ano anterior, com as grandes empresas a liderarem a marcha com uma subida expressiva de 7,2 pontos percentuais.
Setorialmente, o panorama também é desigual. O setor da Informação e Comunicação destaca-se naturalmente como o motor desta transição, com 52,8% das empresas a utilizarem estas tecnologias. Em contrapartida, o setor da construção e atividades imobiliárias mostra-se mais resistente à mudança, apresentando uma taxa de adoção de apenas 5,5%.
Para que serve a IA em Portugal?
Para as organizações que já deram o salto tecnológico, a inteligência artificial não é apenas uma "buzzword", mas sim uma ferramenta prática. A aplicação mais comum, presente em 59,4% das empresas que usam IA, é a análise de linguagem escrita, seguida de perto pela geração de conteúdos multimédia (imagens, vídeo e áudio), utilizada por 50,9% destas entidades. A criação automatizada de texto, voz ou código surge logo depois, sendo uma realidade para 45,6% destas empresas.
Em termos de impacto no negócio, estas ferramentas estão a ser direcionadas para aumentar a eficiência interna. A gestão de processos administrativos lidera as prioridades (40,8%), seguida das atividades de marketing e vendas (36,9%). Curiosamente, a estratégia de aquisição destas tecnologias favorece a compra de software comercial pronto a usar (67,4%), em detrimento do desenvolvimento interno ou da contratação de fornecedores para soluções à medida.
O desconhecimento como principal barreira
Apesar do crescimento, Portugal continua entre os países da União Europeia com menor taxa de adoção de IA, segundo dados do Eurostat de janeiro de 2025. O principal motivo para este atraso não é técnico, mas sim o desconhecimento. Uns expressivos 74,4% das empresas que não utilizam IA admitem que a falta de conhecimentos internos é o maior obstáculo.
Além da falta de know-how, os custos elevados (60,4%), as incertezas legais sobre responsabilidade (57,3%) e as preocupações com a privacidade (55,4%) completam o quadro de hesitação dos gestores nacionais. Para combater esta inércia, o Ministério da Economia, em conjunto com o IAPMEI, planeia realizar um roadshow junto dos diferentes clusters empresariais para demonstrar o potencial prático destas ferramentas, ao mesmo tempo que reforça as linhas de apoio financeiro dedicadas à modernização tecnológica, tal como detalhado nos dados divulgados pelo INE.










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