Bill Gates, o filantropo e cofundador da Microsoft, não mediu palavras numa recente entrevista ao The New York Times, dirigindo duras críticas ao antigo presidente Donald Trump e, de forma particularmente incisiva, a Elon Musk. Em causa estão os cortes no financiamento à Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID), que, segundo Gates, terão consequências devastadoras no que toca à mortalidade infantil.
O alerta de Gates: cortes podem inverter progressos e aumentar mortes
Durante a entrevista, Bill Gates expressou uma profunda preocupação com o impacto dos cortes orçamentais. "Nas mortes infantis, que nos próximos anos deveriam ter passado de cinco milhões para quatro milhões — agora, a menos que haja uma grande reversão, provavelmente passaremos de cinco milhões para seis milhões", lamentou Gates, indicando um potencial aumento de um milhão de mortes de crianças.
Esta posição contrasta com algum otimismo que Gates tinha demonstrado anteriormente. No início deste ano, em declarações ao The Wall Street Journal, Gates tinha-se mostrado "francamente impressionado" com o interesse que Trump expressara sobre os temas que discutiram durante um jantar em dezembro. No entanto, meses depois, Trump e Elon Musk, este último com a pasta da eficiência governamental, avançaram com cortes significativos no financiamento federal, uma medida que, segundo o Times, "abalou" a Fundação Gates.
Cortes "chocantes" e a alegada motivação fútil de Musk
Gates não escondeu a sua surpresa perante a dimensão dos cortes. "As reduções à USAID são chocantes", afirmou. "Pensei que haveria, tipo, um corte de 20 por cento. Em vez disso, neste momento, é como um corte de 80 por cento. E sim, não esperava isso. Acho que ninguém esperava."
O fundador da Microsoft foi mais longe, apontando diretamente a Elon Musk como um dos principais impulsionadores da redução drástica do orçamento da USAID. Numa acusação contundente, Gates sugeriu uma motivação surpreendentemente trivial para a ação de Musk: "Ele [Musk] atirou-o [o orçamento] para o triturador, porque não foi a uma festa nesse fim de semana", disse Gates.
O futuro da Fundação Gates e a filantropia de Musk posta à prova
Quando o jornalista do Times, David Wallace-Wells, mencionou o compromisso de Elon Musk com o "Giving Pledge" – uma iniciativa onde bilionários se comprometem a doar a maior parte da sua fortuna – Gates respondeu com ceticismo sobre a urgência desse compromisso. "Um aspeto invulgar [do Giving Pledge] é que se pode esperar até morrer e ainda assim cumpri-lo", observou Gates, acrescentando de forma crítica: "Portanto, quem sabe? Ele pode vir a ser um grande filantropo. Entretanto, o homem mais rico do mundo esteve envolvido na morte das crianças mais pobres do mundo."
Em paralelo com estas críticas, Gates anunciou os seus próprios planos para o futuro da sua atividade filantrópica. O magnata da tecnologia planeia doar toda a sua riqueza através da Fundação Gates ao longo das próximas duas décadas, com o objetivo de "salvar e melhorar vidas em todo o mundo". Foi também revelado que a Fundação Gates encerrará oficialmente as suas atividades a 31 de dezembro de 2045, data em que se espera que o património líquido de Bill Gates tenha sofrido uma redução de 99 por cento.
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