Young Liu, o CEO da Foxconn, partilhou uma visão transformadora para o futuro da indústria durante uma apresentação na Computex 2025, prevendo que a era da mão de obra de baixo custo em países menos desenvolvidos está perto do fim. Segundo Liu, a Inteligência Artificial (IA) será a força motriz desta mudança, assumindo um papel central nas fábricas para otimizar e acelerar a produção, reduzindo significativamente a dependência de trabalhadores humanos. A própria Foxconn já colhe frutos desta tecnologia em algumas das suas unidades fabris a nível global, com resultados promissores.
O futuro da produção: Eficiência impulsionada por IA e novos desafios laborais
Para o líder da gigante tecnológica, a integração da IA generativa nas operações fabris transcende a mera automação, tocando em questões complexas como os fluxos migratórios e as alterações nas políticas laborais e económicas das nações em desenvolvimento. Liu encara com otimismo a perspetiva de que, eventualmente, o reservatório de mão de obra barata nestes países se esgotará. É neste cenário que a IA surge como a solução para preencher a lacuna.
Contudo, esta transição poderá ter um impacto agridoce nos países mais ricos. Embora a IA possa incentivar o regresso da produção industrial aos seus territórios de origem, tal não se traduzirá necessariamente na criação massiva de empregos para os cidadãos locais. As fábricas inteligentes exigirão, acima de tudo, profissionais altamente especializados em IA, sendo provável que um número reduzido de especialistas consiga gerir estas operações avançadas.
A Foxconn na vanguarda da implementação de IA
Questionado sobre a adoção prática desta tecnologia, Young Liu confirmou que a Foxconn já utiliza ativamente a Inteligência Artificial. Um exemplo notável é a instalação de nova maquinaria nas suas fábricas, um processo que é agora 80% conduzido por IA, necessitando apenas de intervenção humana para a sua conclusão. Esta sinergia entre homem e máquina permite acelerar consideravelmente a montagem das linhas de produção. Além disso, Liu revelou que a IA desempenha um papel crucial na identificação e resolução de problemas que surgem nas linhas de montagem. Apesar do entusiasmo, o CEO admitiu que a ideia inicial de substituir completamente os trabalhadores humanos por IA se revelou, para já, inviável.
FoxBrain e simulações com gémeos digitais: As ferramentas de IA da Foxconn
A aposta da Foxconn na IA vai mais longe. A empresa está a desenvolver a sua própria plataforma de IA generativa, denominada FoxBrain. Esta ferramenta, que se baseia nos modelos de linguagem de grande escala (LLM) Llama 3 e até no futuro Llama 4 da Meta, será especializada nas complexas tarefas de montagem e produção industrial. Outra aplicação inovadora da IA nas instalações da Foxconn passa pelo uso do metaverso, ou mais concretamente, da plataforma Omniverse da Nvidia. Com esta tecnologia, a empresa cria "gémeos digitais" – réplicas virtuais detalhadas das suas fábricas. Estes modelos permitem simular alterações de layout, testar a eficiência de novas configurações e até mesmo projetar fábricas inteiras virtualmente antes do início da sua construção física.
IA e o seu potencial impacto nos fluxos migratórios
Young Liu também abordou a forma como a crescente autonomização das fábricas através da IA se poderá relacionar com os movimentos imigratórios globais. Atualmente, uma parte significativa da imigração é motivada pela procura de trabalho em empregos com salários muito baixos, frequentemente aqueles que os cidadãos nativos dos países de acolhimento não estão dispostos a aceitar. O exemplo dos nipo-brasileiros que se deslocam para o Japão para trabalhar em fábricas ilustra este fenómeno. Com a IA a assumir muitas destas funções, a necessidade de trabalhadores estrangeiros para preencher estas vagas poderá diminuir, alterando potencialmente as dinâmicas migratórias.
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