
A comunidade de utilizadores da Nothing foi recentemente abalada por um pequeno pânico. Utilizadores da versão Nothing OS 4.0 Beta para os telemóveis da série Phone (3a) começaram a notar algo que se assemelhava perigosamente a anúncios no seu ecrã de bloqueio. Tendo em conta que uma experiência limpa e sem publicidade é um dos pilares da marca, a reação negativa não se fez esperar.
Felizmente, a Nothing agiu rapidamente para esclarecer a situação. Num artigo detalhado publicado na sua comunidade, a empresa explicou que a novidade não se trata de anúncios tradicionais, mas sim de uma nova funcionalidade opcional chamada "Lock Glimpse".
A dura realidade de construir uma marca de telemóveis
A empresa foi surpreendentemente transparente sobre as suas motivações. Explicou que construir uma empresa de telemóveis de raiz é uma tarefa incrivelmente difícil e dispendiosa. Os custos dos componentes ("Bill of Materials") são mais elevados para a Nothing do que para gigantes estabelecidos e, ao contrário de empresas como a Samsung, não possuem outras fontes de receita de software para compensar. Estão a operar com "margens de lucro muito reduzidas".
Para continuar a crescer sem ter de passar os custos para o consumidor (especialmente nos telemóveis de gama média), a Nothing precisa de encontrar "modelos de receita sustentáveis". Esta estratégia passará por duas vias: primeiro, algumas aplicações pré-instaladas (que podem ser desinstaladas) em dispositivos que não sejam os topo de gama, como o Instagram; e, em segundo lugar, a nova função que gerou a polémica: o "Lock Glimpse".
O que é (e não é) o ‘Lock Glimpse’?
A Nothing insiste que esta funcionalidade não são os "anúncios manhosos" que os utilizadores temem. Trata-se de uma ferramenta opcional, desenhada para apresentar conteúdo relevante. Segundo a publicação oficial no fórum da comunidade Nothing, a funcionalidade funciona da seguinte forma:
Está desligada por defeito: O utilizador tem de a ativar deliberadamente nas definições ou ao deslizar para a esquerda no ecrã de bloqueio.
Conteúdo de qualidade: Apresenta wallpapers de alta qualidade (divididos por 9 categorias) e pode mostrar "atualizações atempadas e conteúdo útil".
Totalmente personalizável: É possível alterar as categorias, atualizar o conteúdo ou desativar a função por completo.
Privacidade garantida: A Nothing afirma claramente que "nenhum dado pessoal é partilhado".
Futuro promissor: No futuro, será possível utilizar as suas próprias fotografias com esta funcionalidade.
Honestidade é louvável, mas é um caminho perigoso
É refrescante ver uma empresa admitir abertamente: "Isto é caro e precisamos de ganhar dinheiro". Contudo, toda esta situação representa um caminho escorregadio. A polémica tocou num ponto sensível porque os anúncios no ecrã de bloqueio são quase universalmente detestados, sendo uma estratégia que parece barata e invasiva.
Já vimos outras empresas tentar, e a reação é sempre negativa. A Amazon ficou famosa por fazê-lo com os seus telemóveis "Prime Exclusive", que ofereciam um desconto em troca de publicidade no ecrã de bloqueio. Embora tornasse os aparelhos mais baratos, a experiência de utilização era péssima. A Samsung também enfrentou anos de críticas por empurrar anúncios através de notificações e nas suas apps nativas, uma prática que, felizmente, tem vindo a reduzir.
O único fator que torna esta abordagem da Nothing aceitável é o facto de a função estar "desligada por defeito". Enquanto essa opção se mantiver e a escolha do utilizador for respeitada, é difícil criticar demasiado. A empresa está basicamente a admitir que os seus telemóveis mais económicos precisarão de algum apoio financeiro do lado do software, mantendo, espera-se, a experiência nos modelos topo de gama pura e imaculada.
Provavelmente não irei utilizar esta função, pois prefiro um ecrã de bloqueio limpo. No entanto, é de louvar a honestidade da Nothing em explicar o porquê da sua existência, em vez de a introduzir sorrateiramente.











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