
Na última década, o "Direito à Reparação" tornou-se um dos tópicos mais quentes na defesa dos consumidores. Enquanto empresas apoiadas pela Amazon tentam simplificar o design e facilitar o acesso à manutenção através de oficinas locais, a indústria automóvel parece, por vezes, querer seguir o caminho inverso. A BMW, em particular, está a explorar uma estratégia que pode dificultar a vida a quem gosta de fugir às oficinas oficiais.
De acordo com uma patente descoberta na base de dados da Organização Mundial da Propriedade Intelectual, a fabricante alemã está a considerar a criação de cabeças de parafuso personalizadas com um design muito específico: o próprio logótipo da marca.
Um pesadelo para as oficinas independentes
A ideia de ter o emblema da BMW gravado até nos parafusos pode parecer um toque de classe e identidade visual para os puristas da marca, mas os esquemas técnicos revelam uma intenção funcional que vai além da estética. A patente descreve que o formato das reentrâncias foi desenhado especificamente para impedir que o parafuso seja desapertado ou apertado utilizando ferramentas comuns.
Em termos práticos, isto significa que uma chave de fendas ou uma chave inglesa padrão não servirá de nada. Para realizar qualquer manutenção que envolva estes componentes, seria necessária uma ferramenta autorizada, vendida diretamente pela marca e, muito provavelmente, restrita aos seus próprios centros de serviço ou parceiros selecionados. Esta abordagem afasta-se radicalmente de um conceito de reparação acessível e amigável para a carteira do condutor.
Segurança reforçada ou estratégia anticompetitiva?
A justificação da BMW para esta inovação prende-se com a segurança. O documento da patente argumenta que um design de parafuso personalizado tornaria "mais difícil a proteção contra o desaperto não autorizado ou a manipulação do parafuso com ferramentas padrão". Existe, de facto, um argumento válido aqui: o roubo de componentes de veículos e até de matrículas continua a ser um problema real. Na Austrália e no Texas, por exemplo, forças policiais têm recomendado o uso de parafusos antirroubo para proteger as matrículas dos carros.

Segundo a patente, estes parafusos proprietários seriam adequados para fixar componentes do veículo, como a consola central e os bancos, mas poderiam ser aplicados livremente em outras partes. Embora a visão de segurança seja defensável, o histórico da indústria eletrónica e automóvel levanta suspeitas. Em 2022, reguladores na Índia criticaram marcas como a Nissan e a Skoda por restringirem o acesso a peças sobressalentes, e a FTC nos EUA classificou restrições semelhantes como uma questão de direito à reparação.
É importante notar que empresas gigantes registam centenas de patentes anualmente e muitas nunca chegam à linha de produção. Pode ser que esta ideia nunca saia do papel, mas, conforme detalhado na patente listada na WIPO, a possibilidade de um futuro onde necessitamos de uma "chave BMW" apenas para apertar um parafuso é um cenário que deixa muitos consumidores e defensores da reparação em alerta.










Nenhum comentário
Seja o primeiro!