
A inteligência artificial atingiu um ponto de expansão tão crítico que está a empurrar a infraestrutura tecnológica para terrenos desconhecidos e, francamente, preocupantes. Ao contrário do que se poderia pensar, o grande obstáculo atual para os novos projetos de IA não é a escassez de chips ou a falta de capital de investimento, mas sim algo muito mais elementar: a energia elétrica.
A situação chegou a um extremo tal que os operadores de infraestruturas críticas estão a recorrer a soluções que seriam impensáveis há poucos meses: a instalação de turbinas baseadas em motores de avião e geradores a diesel ou a gás como fonte primária de alimentação para os centros de dados.
Soluções extremas para tempos de espera longos
A procura por eletricidade para alimentar os modelos de IA está a aumentar a um ritmo que as redes elétricas convencionais simplesmente não conseguem acompanhar. Nos Estados Unidos, por exemplo, as listas de espera para conseguir uma ligação de alta potência à rede elétrica variam agora entre cinco a sete anos. Perante este cenário de estagnação forçada, as empresas tecnológicas não estão dispostas a esperar.
Conforme detalhado pelo Financial Times, a indústria começou a normalizar o uso de "turbinas aeroderivadas". Estas unidades são, essencialmente, motores de aviação comercial adaptados para gerar eletricidade em terra. Fabricantes como a GE Vernova estão a fornecer estas unidades para serem instaladas diretamente junto aos servidores, permitindo gerar dezenas ou centenas de megavatios de forma imediata, contornando totalmente a rede pública.
Paralelamente, o papel dos geradores a diesel e a gás sofreu uma transformação radical. Se antes serviam apenas como backup de emergência para falhas pontuais, agora empresas como a Cummins estão a vender gigavatios de capacidade para uso contínuo. Estas máquinas estão a ser utilizadas como fonte de energia primária durante meses ou até anos, transformando soluções provisórias em infraestrutura permanente.
O custo da impaciência e o impacto ambiental
Esta abordagem de "desespero" técnico acarreta custos brutais. A energia gerada localmente através destes métodos pode custar o dobro da eletricidade industrial convencional proveniente da rede (seja ela nuclear, eólica ou solar). Além da fatura financeira, há um custo ambiental pesado: mais emissões de carbono, mais ruído e uma relação cada vez mais tensa com as comunidades locais e reguladores.
No entanto, na lógica dos grandes consórcios tecnológicos, pagar o dobro pela energia é preferível a atrasar um projeto de IA avaliado em milhares de milhões de euros. Estas decisões não são tomadas por eficiência ou sustentabilidade, mas sim porque não existe outra alternativa viável a curto prazo para manter os servidores ligados.
Este fenómeno expõe uma realidade incómoda: a corrida pela inteligência artificial ultrapassou a capacidade de planeamento energético dos países desenvolvidos. Enquanto se debatem as redes inteligentes e as energias renováveis, a infraestrutura que suporta a IA hoje depende, ironicamente, de motores desenhados para voar e de combustíveis fósseis queimados 24 horas por dia. Esta dinâmica levanta sérias questões sobre a sustentabilidade da "bolha" da IA e se o retorno do investimento (ROI) poderá ser empurrado para lá de 2030 devido a estes custos operacionais astronómicos.










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