A maioria das empresas europeias a operar na China conseguiu, até ao momento, conter os danos diretos resultantes da guerra comercial. Contudo, um inquérito divulgado esta quinta-feira revela que uma porção significativa dessas companhias considera que o ambiente de negócios se tornou mais desafiante ao longo deste ano.
Inquérito revela um cenário agridoce
O estudo, publicado hoje pela Câmara de Comércio da União Europeia na China, constitui uma das primeiras tentativas de avaliar o estado de espírito das empresas estrangeiras que procuram navegar a atual turbulência pautal. Dos participantes neste rápido levantamento online, 59% indicaram que o ambiente empresarial se tornou mais difícil desde o início de 2025.
Apesar de quase metade das empresas inquiridas afirmar ter sido afetada pelas tarifas impostas por Pequim sobre produtos norte-americanos, menos de um terço sentiu qualquer impacto direto das taxas aduaneiras de Washington sobre as suas exportações a partir da China. A Câmara de Comércio realizou este inquérito entre 17 e 27 de abril, tendo obtido respostas de mais de 150 firmas.
A principal consequência disruptiva desta escalada de retaliações comerciais tem sido o impacto na confiança. Mesmo com Donald Trump a elevar as tarifas dos EUA para os níveis mais altos do último século e Pequim a retaliar na mesma moeda, a Câmara de Comércio refere que muitos dos seus membros conseguiram "mitigar os impactos diretos das tarifas". Isto deveu-se, em parte, a uma abordagem descrita como "na China, para a China".
"É difícil subestimar o nível de incerteza que esta guerra comercial gerou para os nossos membros", declarou Jens Eskelund, presidente do grupo empresarial europeu. "Mas acreditamos que a China pode transformar a crise em oportunidade e demonstrar que é um destino de investimento estável e previsível."
Pequim tenta aproximar-se da Europa e estabilizar investimento
Este relatório surge num contexto em que Pequim demonstra vontade de melhorar as relações com Bruxelas, procurando posicionar-se como um parceiro mais fiável, especialmente numa altura em que a administração Trump tem vindo a alienar o bloco europeu. No mês passado, o grupo empresarial europeu – que agrega mais de 1.700 empresas associadas – instou a China a rever as suas políticas industriais como forma de evitar mais reações adversas e fortalecer os laços económicos internacionais.
O governo de Pequim está determinado a inverter a tendência de queda no investimento estrangeiro direto, que em 2024 atingiu o seu nível mais baixo em mais de três décadas.
No início deste ano, a China apresentou um plano de ação para estabilizar o investimento estrangeiro. Este plano previa medidas como a remoção de todas as restrições ao acesso ao mercado no setor industrial e a garantia de tratamento equitativo para os bens produzidos tanto por empresas locais como internacionais.
Ainda esta semana, o Presidente chinês, Xi Jinping, numa mensagem dirigida à Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e ao Presidente do Conselho Europeu, António Costa, exortou a União Europeia a unir-se à China contra o unilateralismo, sublinhando a necessidade de ambas as partes "gerirem adequadamente" as divergências e aprofundarem a comunicação estratégica.
Outras preocupações no horizonte e o barómetro alemão
O inquérito da Câmara de Comércio da UE revelou ainda outras inquietações por parte das empresas europeias na China:
- Mais de 60% dos inquiridos antecipam uma intensificação da concorrência.
- 58% mostram-se preocupados com os lucros futuros.
- Cerca de 76% afirmaram que a sua empresa sentiu um aumento da pressão política por parte do governo dos EUA desde o início de 2025, enquanto 45% reportaram um escrutínio semelhante por parte das autoridades chinesas.
- Mais de metade das empresas reporta perturbações nas suas cadeias de abastecimento.
Este estudo surge na sequência de um inquérito similar conduzido pela câmara de comércio alemã na China, também realizado em meados de abril e divulgado na passada quarta-feira. Nesse levantamento, perto de nove em cada dez inquiridos afirmaram ter sido afetados por tarifas – tanto norte-americanas como chinesas.
Nenhum comentário
Seja o primeiro!