Durante anos, o discurso no mundo da tecnologia tem sido dominado pela promessa de que os carros autónomos iriam erradicar os acidentes rodoviários. Elon Musk, o rosto da Tesla, tem sido um dos maiores defensores desta visão, prometendo um futuro com Teslas totalmente autónomos há quase uma década. Contudo, imagens recentemente reveladas de um acidente fatal colocam um enorme travão neste otimismo, precisamente quando a empresa se prepara para lançar o seu serviço de robotáxis.
A promessa de segurança e a dura realidade de um embate fatal
Apesar das promessas de Musk, a realidade tem-se mostrado mais complexa e, por vezes, trágica. A prova mais recente e chocante é um vídeo de um acidente ocorrido em 2023, que resultou na primeira morte de um peão atribuída diretamente ao software de condução autónoma da Tesla. A vítima foi uma avó de 71 anos, na zona de Phoenix, Arizona.
As imagens, divulgadas pela Bloomberg, são perturbadoras. Mostram um Tesla a circular em alta velocidade numa autoestrada, ofuscado pelo pôr do sol. Momentos antes do embate, o veículo desvia-se para a esquerda para evitar um homem que lhe fazia sinal, mas sem reduzir a velocidade. De seguida, o carro corrige a trajetória para a direita, indo embater diretamente na mulher, que ajudava a controlar o trânsito após um acidente anterior ter bloqueado a via. Embora houvesse um condutor no veículo, que deveria ter intervindo, não se sabe se foi responsabilizado pela morte.
Investigação federal e a controversa tecnologia da Tesla
Este incidente fatal intensificou o escrutínio sobre o sistema "Full Self-Driving" (FSD) da Tesla. Apesar do nome, o sistema exige supervisão humana constante e já esteve envolvido em múltiplos acidentes. Um dos aspetos mais graves é que a Tesla demorou sete meses a reportar os detalhes deste acidente à National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA), a entidade reguladora da segurança rodoviária nos EUA, o que motivou uma investigação federal.
Um dos pontos mais criticados na abordagem da Tesla é a sua insistência em usar apenas câmaras para a deteção de objetos, ao contrário de concorrentes como a Waymo, que utilizam sistemas LiDAR, considerados mais fiáveis. A estratégia de Musk, focada exclusivamente na visão computacional, tem levantado cada vez mais preocupações sobre falhas de segurança. Prova disso é que a Tesla está ativamente a contratar engenheiros para desenvolver "sistemas de limpeza de sensores", numa aparente tentativa de corrigir os problemas que, até 2024, já contribuíram para um total de 467 acidentes.
Robotáxis em Austin: um desastre iminente?
O cenário torna-se ainda mais preocupante com a notícia de que o serviço de robotáxis da Tesla está a poucos dias de ser lançado em Austin, no Texas. Modelos Y sem condutor já circulam em fase de testes nas estradas daquela cidade, partilhando o asfalto com condutores, ciclistas e peões.
A situação é de tal forma alarmante que os próprios documentos internos da Tesla, segundo relatos, antecipam que o lançamento será um desastre. O sentimento é partilhado por especialistas. Bryant Walker Smith, advogado e engenheiro de transportes, afirmou à Bloomberg que a Tesla "alega que será iminentemente capaz de fazer algo — a verdadeira condução automatizada — que todas as evidências sugerem que ainda não consegue fazer em segurança".
Com o lançamento a aproximar-se, parece que todos os que circulam nas estradas de Austin estão prestes a tornar-se, involuntariamente, nos sujeitos de teste de uma tecnologia que ainda tem muito a provar.
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