
A indústria automóvel europeia encontra-se numa encruzilhada complexa que parece não ter solução à vista. Quando a China começou a produzir veículos elétricos em massa e a exportá-los para o Velho Continente, os fabricantes tradicionais perceberam rapidamente que estavam em desvantagem competitiva.
Incapazes de igualar a capacidade de produção do gigante asiático ou de tornar os veículos elétricos rentáveis a curto prazo, as marcas europeias, lideradas pela Alemanha, pressionaram a União Europeia para abandonar o plano de proibir os motores de combustão interna a partir de 2035. O resultado prático é que a Europa continuará a vender carros a gasolina e gasóleo, mas a China continua a dominar o mercado dos elétricos e, ironicamente, começa agora a inundar o mercado ocidental também com os seus próprios carros a combustão.
A ilusão da vitória alemã e os números da BYD
A Alemanha, que tradicionalmente exerce uma forte influência em Bruxelas através dos seus grupos de pressão do setor automóvel, conseguiu recentemente reverter, ou pelo menos suspender, o plano de fim dos motores térmicos. Bruxelas cedeu às exigências alemãs e de outros países como a Itália, reduzindo as metas de emissões. A Alemanha acredita ter saído vitoriosa, garantindo a continuidade das vendas da sua tecnologia tradicional, mas a realidade é que os fabricantes europeus ainda não conseguem produzir elétricos acessíveis aos consumidores e lucrativos para as empresas.
Enquanto a Europa celebra esta "vitória" legislativa, a China continua a avançar. Os dados de novembro de 2025 ilustram perfeitamente esta mudança de paradigma. Conforme reportado pela Reuters, a BYD vendeu mais carros do que a Tesla no próprio mercado alemão.
Os números são claros: as vendas da marca norte-americana caíram 20% em comparação com o ano anterior, enquanto as vendas da fabricante chinesa aumentaram nove vezes. Este cenário não afeta apenas a Tesla; as marcas alemãs e francesas enfrentam a mesma pressão, com a BYD a aproximar-se perigosamente dos volumes de vendas de gigantes como a Renault, Citroën e Fiat.
O domínio chinês além dos elétricos
A estratégia europeia parece agora passar por tentar competir com a China utilizando o conceito dos "kei cars" japoneses — veículos pequenos e supostamente acessíveis. Embora inicialmente pensados para serem elétricos, existe uma forte probabilidade de acabarem por ser comercializados com motores a combustão, especialmente com a Itália a defender que as versões elétricas não terão saída comercial.
No entanto, o que está realmente a vender são os modelos chineses, e não apenas os movidos a baterias. Desde 2020, cerca de 76% das exportações dos fabricantes chineses correspondem a modelos com motor de combustão. O impacto já é visível em mercados vizinhos, como a Espanha, onde a MG entrou no top 10 das marcas mais vendidas, impulsionada pelo sucesso do seu modelo a gasolina, o MG ZS. Ao tentar proteger os seus motores a combustão, a Alemanha pode ter, inadvertidamente, escancarado a porta para o domínio total da indústria chinesa na Europa.










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