
Passaram-se três anos desde que o lançamento do ChatGPT, em novembro de 2022, abalou o setor tecnológico e colocou a indústria chinesa em estado de alerta. Agora, o cenário mudou drasticamente: a China conseguiu reduzir significativamente a diferença de desempenho em inteligência artificial face aos Estados Unidos, marcando o que muitos observadores consideram ser um ponto de viragem nesta corrida tecnológica global.
Esta evolução tornou-se evidente com a entrada em cena da startup chinesa DeepSeek. Com o lançamento do modelo V3 no final de dezembro de 2024 e do modelo de raciocínio R1 em janeiro de 2025, a empresa alcançou um desempenho comparável aos modelos de topo de gigantes norte-americanas como a OpenAI e a Meta. Segundo os dados de testes de referência, a distância entre os melhores modelos dos EUA e da China encolheu de 103 pontos em janeiro de 2024 para apenas 23 pontos em fevereiro de 2025.
Inovação nascida da escassez de recursos
Um dos maiores obstáculos para o desenvolvimento chinês tem sido o acesso limitado ao hardware de ponta. Wang Qi, vice-presidente da unidade de nuvem da Tencent, destacou em maio que o problema mais grave reside nos recursos limitados de placas gráficas e capacidade computacional. No entanto, as restrições de exportação impostas pelos EUA, que limitam o acesso a chips avançados da Nvidia, acabaram por forçar as empresas chinesas a inovar.
A resposta foi o desenvolvimento de métodos de treino com uma relação custo-benefício muito superior. O modelo R1 da DeepSeek, por exemplo, conseguiu atingir resultados comparáveis ao modelo o1 da OpenAI, mas utilizando significativamente menos poder computacional. Analistas sugerem que estas restrições podem estar, ironicamente, a impulsionar uma inovação na eficiência que poderá revelar-se vantajosa a longo prazo para a China.
Uma prioridade nacional para 2026 e além
O governo chinês não está a deixar este crescimento ao acaso. Durante a Conferência Central de Trabalho Económico, realizada em dezembro, a Inteligência Artificial foi elevada a prioridade nacional para 2026, com planos concretos para acelerar a iniciativa "IA Plus". O objetivo é ambicioso: incorporar a IA em setores como a indústria transformadora, saúde e transportes, visando uma penetração de 70% nos principais setores industriais até 2027.
Para apoiar esta estratégia, grandes tecnológicas como a Alibaba e a Baidu começaram a utilizar chips desenhados internamente para treinar os seus modelos, reduzindo a dependência externa. Além disso, foi ativada uma rede de computação de IA distribuída com 2.000 quilómetros, que promete atingir 98% da eficiência de um centro de dados único.
Apesar destes avanços, os EUA mantêm uma vantagem decisiva no poder computacional bruto, detendo 74% da computação global de IA em meados de 2025, contra os 14% da China. Contudo, o ceticismo inicial dos investidores dissipou-se. Se há um ano o caminho para a monetização parecia pouco claro, hoje a diferença de desempenho entre as potências mede-se em meses, e não em anos, segundo relata o SCMP.










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