
Quando o suporte oficial para o Windows 10 terminou no mês passado, cerca de uma década após o seu lançamento original, muitos utilizadores viram-se numa encruzilhada: atualizar o equipamento ou manter a versão existente. Embora a recomendação dos especialistas tenha sido quase unânime em direção à migração para o Windows 11, citando a segurança como principal motor, a realidade mostra um cenário diferente. Curiosamente, sistemas operativos com 24 e 16 anos, como o Windows XP e o Windows 7, respetivamente, continuam a ter uma base de utilizadores fiel.
A questão impõe-se: o que leva alguém a manter-se fiel a software de décadas passadas num mundo tecnológico que avança a um ritmo vertiginoso? A resposta reside numa mistura de compatibilidade, custos e pragmatismo.
A barreira da compatibilidade e o custo da mudança
A principal razão pela qual tantos utilizadores e empresas se mantêm no Windows XP e no Windows 7 é, sem dúvida, a compatibilidade de aplicações. Muitas ferramentas antigas, desenvolvidas nos primórdios da informática moderna, simplesmente não funcionam nas iterações mais recentes do sistema operativo da Microsoft.
Esta realidade é particularmente crítica para pequenas e médias empresas, bem como para setores industriais, que dependem de software legado para as suas operações diárias. Além do software, existe o problema do hardware: periféricos antigos, como scanners e impressoras industriais, muitas vezes deixam de funcionar ou apresentam erros constantes quando ligados a sistemas mais recentes, obrigando à manutenção das máquinas antigas.
Para contornar os riscos de segurança, muitos utilizadores optam por correr o Windows XP em ambientes virtualizados. Uma máquina virtual permite utilizar estas aplicações antigas sem expor o sistema principal a ameaças externas. Embora não elimine o risco na totalidade, o uso de um antivírus fiável e boas práticas de navegação (ou a ausência total de ligação à internet) minimiza a exposição.
O dilema dos dados e a resistência à atualização
Poder-se-ia questionar a relutância em atualizar quando existem alternativas económicas no mercado. No entanto, a análise das despesas totais revela que a mudança é muitas vezes financeiramente inviável.
Para além do custo do hardware e das licenças, existe um obstáculo técnico monumental: a migração de dados. Em muitos casos, as bases de dados de software antigo não podem ser migradas automaticamente para versões modernas devido a incompatibilidades de formato. A única solução seria a introdução manual de dados, o que, para empresas com 20 ou 25 anos de histórico (desde os tempos do XP), representa um esforço titânico e um custo proibitivo em horas de trabalho. A isto soma-se o risco real de perda de dados durante o processo, o que poderia paralisar operações críticas.

Em regiões com rendimentos per capita mais baixos, o investimento numa renovação total do parque informático é um peso considerável. Se o sistema atual cumpre a sua função, não apresenta erros e corre as aplicações necessárias, a atualização é vista como um luxo desnecessário e pouco prático.
Os números não mentem: a persistência do passado
Apesar da resistência, o número de computadores a correr estas versões antigas está, naturalmente, em declínio. Em janeiro de 2023, o Windows 7 detinha ainda 9,55% do mercado, enquanto o Windows XP registava 0,45%. Um ano depois, em janeiro de 2024, a quota do Windows 7 desceu para 3,05%, mas curiosamente o Windows XP subiu ligeiramente para 0,57%.
Esta tendência de "resistência" reflete-se também no recente fim de vida do Windows 10. Embora se esperasse um declínio acentuado da sua quota de mercado após outubro de 2025, tal não aconteceu de forma drástica. Parte deste fenómeno deve-se ao programa ESU (Extended Security Updates) da Microsoft, que oferece atualizações de segurança estendidas, mas também demonstra que os utilizadores estão hoje mais informados e priorizam a conveniência e estabilidade sobre as atualizações forçadas pelos fabricantes.
O Windows XP e o Windows 7 não deverão tornar-se obsoletos tão cedo. A familiaridade, a fiabilidade comprovada e a facilidade de uso continuam a ditar esta tendência. Muitos destes sistemas operam isolados da internet, dedicados a tarefas específicas como faturação, impressão ou controlo de processos de fabrico, o que reduz drasticamente a sua superfície de ataque. Enquanto o custo da mudança superar o benefício percebido, estas relíquias digitais continuarão a operar nos bastidores da nossa economia.