[quote]Fecharam mais de 80 por cento dos videoclubes em cinco anos
Há cinco anos, o número de videoclubes em Portugal rondava os 1800. Em 2010, eram cerca de 300 (menos 83 por cento). As contas são da Federação Portuguesa de Editores de Videogramas (Fevip, que representa as editoras que vendem filmes aos videoclubes) e mostram um sector em queda abrupta.
Não há dados sobre as receitas totais dos clubes de vídeo em Portugal. Mas, entre 2008 e 2010, a venda de filmes feita pelas editoras para os videoclubes caiu 40 por cento – cerca de dez milhões de euros. O resto do mercado, composto pelas remessas para os retalhistas de venda directa ao público (como as grandes superfícies), também teve uma evolução negativa, mas a descida foi menos acentuada.
"O negócio dos videoclubes está a encolher muito, muito", diz o presidente da FEVIP, Paulo Santos, que tem uma justificação pronta para a quebra do sector, cujo período áureo se registou nas décadas de 1980 e 1990: "Está a cair por causa da pirataria". E aponta como exemplo os videojogos, "que não são pirateados como os vídeos" (a pirataria de jogos é tecnicamente mais difícil) e cujo mercado tem estado a crescer, mesmo em anos de crise financeira.
O responsável, porém, admite que a partilha online não é uma causa isolada e que as ofertas dos operadores de televisão são também uma nova concorrência que os videoclubes enfrentam. "Há uma mudança de plataforma com o video on demand", reconhece Paulo Santos.
Os operadores de televisão por cabo têm comercializado agressivamente as ofertas de vídeo on demand. A Meo, detida pela PT, lançou o serviço em 2007. Segundo números dados pela empresa ao PÚBLICO, 55 por cento dos cerca de 620 mil clientes de por rede de Internet (a chamada IPTV) usaram o serviço para alugar filmes ao longo de 2010. Nesse ano, o número de clientes do video on demand cresceu 30 por cento, o que se traduziu num aumento de receitas na ordem dos 25 por cento. Cada utilizador alugou uma média de 2,3 filmes por mês.
A empresa não divulga receitas, mas, feitas as contas, com os preços a oscilar entre os 1,5 euros (para os títulos mais antigos) e os 3,5 euros (os mais recentes), isto significará um encaixe mensal, dentro destas contas, entre os 511 mil euros e quase um milhão e 200 mil euros.
Já a ZON não quis fornecer dados ao PÚBLICO. No relatório e contas da empresa, porém, lê-se que "no final de 2010 (...) mais de 45 por cento dos clientes de cabo têm acesso ao serviço de videoclube", o que significa "um aumento de mais de 15 pontos percentuais em relação a 2009".
Novos hábitos
Os serviços de vídeo on demand são uma tendência em vários países e um negócio cobiçado mesmo por empresas fora do sector do audiovisual. Exemplo disso foi a aquisição, esta quarta-feira, da Blinkbox, empresa de video on demand, pela cadeia de supermercados britânica Tesco.
A concorrência aos videoclubes, contudo, não é apenas o video on demand, mas também os novos hábitos de consumo associados às novas tecnologias televisivas, defende Nuno Pereira, presidente da Associação do Comércio Audiovisual, de Obras Culturais e de Entretenimento de Portugal (Acapor), uma associação que representa cerca de uma centena de videoclubes. A possibilidade de usar uma box (como as que os operadores de televisão paga disponibilizam) para gravar programas e vê-los mais tarde, argumenta Nuno Pereira, é o tipo de funcionalidade que se tornou uma alternativa ao aluguer do vídeo.
O presidente da Acapor, no entanto, também aponta o dedo sobretudo à facilidade com que se encontram filmes gratuitamente na Internet: "A queda dos videoclubes dá-se sobretudo a partir do momento em que há banda larga [suficiente para descarregar filmes]." Este ano, a associação entregou duas mil queixas na justiça por alegada partilha ilegal de ficheiros.
Receitas alternativas
Mário Teixeira, responsável pelo Why Not de Vale de Cambra (o negócio é constituído por três lojas, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra), indica o mesmo problema: "Estamos nas férias da Páscoa e ainda não passou por cá nenhum miúdo. Agora são piratinhas", lamenta. Para sobreviver, resolveu apostar em receitas alternativas.
O Why Not criou um clube de livros, para além de passar a vender chocolates, gomas, amendoins e outros. Embora ainda não esteja nos hábitos dos cerca de 500 clientes da loja, as receitas dos livros vão aumentando aos poucos.
"Estamos a assistir a uma tendência em sentido inverso: o clube de vídeo cai, o de livros sobe", explica, embora o clube de vídeos ainda esteja responsável pela maioria das receitas. O responsável, porém, não adiantou dados concretos ao PÚBLICO.
Mas nem todos têm margem para investir. Quem o diz é Helena Neto, 51 anos, co-proprietária de A Birra, na Parede, Cascais. O negócio familiar já teve dias melhores. "Isto dava muito dinheiro há 20 anos. Foi muito bom até 1996, 1997. Depois começou a baixar. Ultimamente tem caído a pique." António Birra recorda: "Antigamente tínhamos sete lojas, que empregavam 18 pessoas". Hoje, A Birra resume-se a uma loja, que dura desde os anos 80, restando apenas António e Helena.
Tal como em Vale de Cambra, o clube de vídeo não se restringe apenas a vídeos. Vendem-se gomas, gelados, batatas fritas, chocolates, "quase uma loja de conveniência", brinca o dono. "Há aqui perto uma escola, quase metade das nossas receitas provêm destes produtos", admite a co-proprietária, sem adiantar números. "Se fosse só o clube de vídeo, não dava para sobreviver." Mas, acrescenta: "É preferível ter isto do que não ter nada".
O empresário também culpa a partilha de ficheiros online e acusa as autoridades. "Temos uma lei, mas para quê? Não se faz justiça", desabafa.
Contra a corrente
A contrariar a tendência está o negócio de Bruno Mendes, que vai de vento em popa. Bruno é um dos três sócios e gerente da loja Cineteka, um conceito inovador no sector dos clubes de vídeo. Tudo começou há sete anos quando, sem espaço físico, "o Gonçalo [um dos três sócios, todos com idades entre os 32 e 33 anos] teve a ideia de fazer um clube de vídeo online" inspirando-se em modelos internacionais, em que as encomendas eram enviadas por correio.
O negócio cresceu com cada vez mais procura. Decidiram abrir um espaço físico há cinco anos, no Parque das Nações, em Lisboa. A loja oferece vários serviços: "uma zona de cafetaria, uma loja de produtos de cinema, um cibercafé e um clube de vídeo". Esta oferta alargada permite "ir buscar mais facturação em cada ponto e dar uma oferta mais alargada aos clientes", embora o clube de vídeo continue a recolher a maior porção das receitas.
"Temos tido um crescimento bastante grande e sustentado porque somos diferentes do que é o negócio tradicional", explica Bruno, justificando assim o aumento de 20 por cento nas receitas em relação ao mesmo período de 2010, mas sem precisar. O facto de não estarem presos ao espaço físico permite-lhes ter "uma cobertura nacional, dos Açores ao Alentejo, do grande Porto à Madeira", bastando ter uma morada para ser cliente da Cineteka.
Bruno é o único dos três sócios que trabalha a tempo inteiro na loja. "Os meus dois sócios, apesar de terem as suas ocupações, dão uma ajuda importantíssima em diversos sectores da actividade", diz, realçando que todos têm "espírito de equipa e vontade de colaborar".
"Vamos continuar a crescer", garante o gerente. "Foi assim durante todo o ano passado, tem sido assim durante o primeiro trimestre deste ano, a expectativa é óptima".
FONTE: PUBLICO http://economia.publico.pt/Noticia/fecharam-mais-de-80-por-cento-dos-videoclubes-em-cinco-anos_1491135
Há cinco anos, o número de videoclubes em Portugal rondava os 1800. Em 2010, eram cerca de 300 (menos 83 por cento). As contas são da Federação Portuguesa de Editores de Videogramas (Fevip, que representa as editoras que vendem filmes aos videoclubes) e mostram um sector em queda abrupta.
Não há dados sobre as receitas totais dos clubes de vídeo em Portugal. Mas, entre 2008 e 2010, a venda de filmes feita pelas editoras para os videoclubes caiu 40 por cento – cerca de dez milhões de euros. O resto do mercado, composto pelas remessas para os retalhistas de venda directa ao público (como as grandes superfícies), também teve uma evolução negativa, mas a descida foi menos acentuada.
"O negócio dos videoclubes está a encolher muito, muito", diz o presidente da FEVIP, Paulo Santos, que tem uma justificação pronta para a quebra do sector, cujo período áureo se registou nas décadas de 1980 e 1990: "Está a cair por causa da pirataria". E aponta como exemplo os videojogos, "que não são pirateados como os vídeos" (a pirataria de jogos é tecnicamente mais difícil) e cujo mercado tem estado a crescer, mesmo em anos de crise financeira.
O responsável, porém, admite que a partilha online não é uma causa isolada e que as ofertas dos operadores de televisão são também uma nova concorrência que os videoclubes enfrentam. "Há uma mudança de plataforma com o video on demand", reconhece Paulo Santos.
Os operadores de televisão por cabo têm comercializado agressivamente as ofertas de vídeo on demand. A Meo, detida pela PT, lançou o serviço em 2007. Segundo números dados pela empresa ao PÚBLICO, 55 por cento dos cerca de 620 mil clientes de por rede de Internet (a chamada IPTV) usaram o serviço para alugar filmes ao longo de 2010. Nesse ano, o número de clientes do video on demand cresceu 30 por cento, o que se traduziu num aumento de receitas na ordem dos 25 por cento. Cada utilizador alugou uma média de 2,3 filmes por mês.
A empresa não divulga receitas, mas, feitas as contas, com os preços a oscilar entre os 1,5 euros (para os títulos mais antigos) e os 3,5 euros (os mais recentes), isto significará um encaixe mensal, dentro destas contas, entre os 511 mil euros e quase um milhão e 200 mil euros.
Já a ZON não quis fornecer dados ao PÚBLICO. No relatório e contas da empresa, porém, lê-se que "no final de 2010 (...) mais de 45 por cento dos clientes de cabo têm acesso ao serviço de videoclube", o que significa "um aumento de mais de 15 pontos percentuais em relação a 2009".
Novos hábitos
Os serviços de vídeo on demand são uma tendência em vários países e um negócio cobiçado mesmo por empresas fora do sector do audiovisual. Exemplo disso foi a aquisição, esta quarta-feira, da Blinkbox, empresa de video on demand, pela cadeia de supermercados britânica Tesco.
A concorrência aos videoclubes, contudo, não é apenas o video on demand, mas também os novos hábitos de consumo associados às novas tecnologias televisivas, defende Nuno Pereira, presidente da Associação do Comércio Audiovisual, de Obras Culturais e de Entretenimento de Portugal (Acapor), uma associação que representa cerca de uma centena de videoclubes. A possibilidade de usar uma box (como as que os operadores de televisão paga disponibilizam) para gravar programas e vê-los mais tarde, argumenta Nuno Pereira, é o tipo de funcionalidade que se tornou uma alternativa ao aluguer do vídeo.
O presidente da Acapor, no entanto, também aponta o dedo sobretudo à facilidade com que se encontram filmes gratuitamente na Internet: "A queda dos videoclubes dá-se sobretudo a partir do momento em que há banda larga [suficiente para descarregar filmes]." Este ano, a associação entregou duas mil queixas na justiça por alegada partilha ilegal de ficheiros.
Receitas alternativas
Mário Teixeira, responsável pelo Why Not de Vale de Cambra (o negócio é constituído por três lojas, São João da Madeira, Oliveira de Azeméis e Vale de Cambra), indica o mesmo problema: "Estamos nas férias da Páscoa e ainda não passou por cá nenhum miúdo. Agora são piratinhas", lamenta. Para sobreviver, resolveu apostar em receitas alternativas.
O Why Not criou um clube de livros, para além de passar a vender chocolates, gomas, amendoins e outros. Embora ainda não esteja nos hábitos dos cerca de 500 clientes da loja, as receitas dos livros vão aumentando aos poucos.
"Estamos a assistir a uma tendência em sentido inverso: o clube de vídeo cai, o de livros sobe", explica, embora o clube de vídeos ainda esteja responsável pela maioria das receitas. O responsável, porém, não adiantou dados concretos ao PÚBLICO.
Mas nem todos têm margem para investir. Quem o diz é Helena Neto, 51 anos, co-proprietária de A Birra, na Parede, Cascais. O negócio familiar já teve dias melhores. "Isto dava muito dinheiro há 20 anos. Foi muito bom até 1996, 1997. Depois começou a baixar. Ultimamente tem caído a pique." António Birra recorda: "Antigamente tínhamos sete lojas, que empregavam 18 pessoas". Hoje, A Birra resume-se a uma loja, que dura desde os anos 80, restando apenas António e Helena.
Tal como em Vale de Cambra, o clube de vídeo não se restringe apenas a vídeos. Vendem-se gomas, gelados, batatas fritas, chocolates, "quase uma loja de conveniência", brinca o dono. "Há aqui perto uma escola, quase metade das nossas receitas provêm destes produtos", admite a co-proprietária, sem adiantar números. "Se fosse só o clube de vídeo, não dava para sobreviver." Mas, acrescenta: "É preferível ter isto do que não ter nada".
O empresário também culpa a partilha de ficheiros online e acusa as autoridades. "Temos uma lei, mas para quê? Não se faz justiça", desabafa.
Contra a corrente
A contrariar a tendência está o negócio de Bruno Mendes, que vai de vento em popa. Bruno é um dos três sócios e gerente da loja Cineteka, um conceito inovador no sector dos clubes de vídeo. Tudo começou há sete anos quando, sem espaço físico, "o Gonçalo [um dos três sócios, todos com idades entre os 32 e 33 anos] teve a ideia de fazer um clube de vídeo online" inspirando-se em modelos internacionais, em que as encomendas eram enviadas por correio.
O negócio cresceu com cada vez mais procura. Decidiram abrir um espaço físico há cinco anos, no Parque das Nações, em Lisboa. A loja oferece vários serviços: "uma zona de cafetaria, uma loja de produtos de cinema, um cibercafé e um clube de vídeo". Esta oferta alargada permite "ir buscar mais facturação em cada ponto e dar uma oferta mais alargada aos clientes", embora o clube de vídeo continue a recolher a maior porção das receitas.
"Temos tido um crescimento bastante grande e sustentado porque somos diferentes do que é o negócio tradicional", explica Bruno, justificando assim o aumento de 20 por cento nas receitas em relação ao mesmo período de 2010, mas sem precisar. O facto de não estarem presos ao espaço físico permite-lhes ter "uma cobertura nacional, dos Açores ao Alentejo, do grande Porto à Madeira", bastando ter uma morada para ser cliente da Cineteka.
Bruno é o único dos três sócios que trabalha a tempo inteiro na loja. "Os meus dois sócios, apesar de terem as suas ocupações, dão uma ajuda importantíssima em diversos sectores da actividade", diz, realçando que todos têm "espírito de equipa e vontade de colaborar".
"Vamos continuar a crescer", garante o gerente. "Foi assim durante todo o ano passado, tem sido assim durante o primeiro trimestre deste ano, a expectativa é óptima".
FONTE: PUBLICO http://economia.publico.pt/Noticia/fecharam-mais-de-80-por-cento-dos-videoclubes-em-cinco-anos_1491135