
A Microsoft encerrou oficialmente o suporte ao Windows 10 no mês passado, numa tentativa clara de empurrar o mercado global para o seu sistema operativo mais recente. No entanto, os dados mais recentes provenientes dos grandes fabricantes de hardware sugerem que os utilizadores não estão com pressa de fazer a atualização, resistindo à mudança de uma forma que não se via nas gerações anteriores.
Durante a apresentação dos resultados financeiros do terceiro trimestre de 2025, a Dell pintou um cenário pouco animador para as ambições da gigante de Redmond, revelando que a transição está longe de atingir as metas esperadas.
Uma transição lenta e dolorosa
Jeffrey Clarke, diretor de operações da Dell, não poupou nas palavras ao descrever o atual estado do mercado de PCs. Segundo o executivo, a migração para o Windows 11 está a ocorrer a um ritmo consideravelmente mais lento do que a transição que se observou do Windows 8.1 para o Windows 10 na mesma fase do ciclo de vida.
"Ainda não concluímos a transição para o Windows 11. Na verdade, se compararmos com o fim do suporte do sistema operativo anterior, estamos de 10 a 12 pontos atrás no Windows 11 em relação à geração anterior", explicou Clarke aos investidores, citado pelo The Register.
Um dos principais entraves apontados é a enorme base instalada de hardware incompatível. Clarke estima que existam cerca de 500 milhões de computadores em utilização ativa que não cumprem os requisitos mínimos exigidos pela Microsoft para o novo sistema. Em teoria, isto representaria uma oportunidade de ouro para vender novas máquinas, mas a realidade do mercado conta uma história diferente.
O hardware não se vende sozinho
Apesar de centenas de milhões de computadores estarem agora tecnicamente obsoletos e sem suporte oficial de segurança (a menos que paguem pelas atualizações estendidas), os consumidores não estão a correr para as lojas. A Dell prevê que as vendas de PCs permaneçam "praticamente estáveis" no futuro próximo, indicando que a obsolescência programada do Windows 10 não está a ser um motor suficiente para justificar a compra de novo hardware por parte dos consumidores e empresas.
Este cenário de estagnação na renovação de hardware pode estar a impulsionar uma tendência alternativa. Com o fim do suporte do Windows 10, dados indicam que cerca de 800 mil utilizadores optaram por não comprar um PC novo, mas sim migrar as suas máquinas atuais para uma distribuição Linux, prolongando assim a vida útil dos equipamentos sem os riscos de segurança de um sistema Windows descontinuado.
Foco na IA e servidores
Apesar da lentidão no mercado de consumo, a Dell apresentou resultados financeiros sólidos, com uma receita de 27 mil milhões de dólares (aproximadamente 25,6 mil milhões de euros). A empresa está otimista para 2026, prometendo "outro ano recorde", mas o motor desse crescimento não será o PC doméstico.
A grande aposta da marca reside agora nos servidores dedicados à Inteligência Artificial, um setor onde a procura continua a explodir. A empresa afirma estar a "vencer a corrida da IA", compensando a fraca adesão ao novo Windows com encomendas massivas de infraestrutura para data centers.
Para a Microsoft, fica o alerta: entre requisitos de hardware rigorosos, funcionalidades de IA que nem todos desejam e bugs ocasionais, convencer o mundo a abandonar o Windows 10 está a provar ser uma batalha muito mais difícil do que o previsto.










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